Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Diante da pesada inflação, o plano real não contornou os efeitos do desequilíbrio causado pela economia mundial, mas os agravou.
Foi um choque monetário com base na âncora cambial e juros elevados. Era para ser uma fase curta de ajuste, mas se tornou um truque para iludir a população enquanto tudo o mais ia se desfazendo, indústria, infraestrutura, educação, saúde, pela ausência de investimentos e corrupção. A partir dos anos 1990, a indústria foi definhando até chegar ao ponto de não produzir quase nada.
O Brasil se tornou importador e dependente até de produtos simples; todavia é uma alegria contemplar nas feiras e mercados a fartura de alimentos produzidos no país. Há que se recuperar a fabricação. Agora, tudo está meio desmoronando, com aumentada dependência financeira e de manufaturados importados, e em consequência da pandemia, que trouxe escassez e inflação.
O uso das moedas nacionais teria sido um caminho de diversificação do dinheiro e de maior equilíbrio nas relações econômicas no comércio bilateral ou nos grupos de países como os do Mercosul, mas a pressão exercida pelo dólar, que superou a crise de credibilidade após o rearranjo de 1971, e a péssima gestão monetária de muitos países, tornaram suas moedas de pouca confiança e imprestáveis como meios de pagamentos internacionais.
Ao ter se tornado um simples papel impresso, o dinheiro precisa da credibilidade para permanecer aceito como reserva. O dólar tem um histórico de consolidação de mais de um século. O FED, formado em 1913 como gestor do dólar, se tornou o poderoso condutor da finança, mas o que acontecerá com os EUA com seus problemas internos e sua interferência nos conflitos beligerantes pelo mundo?
Não é novidade que o mundo adentrou numa nova disputa entre Estados Unidos e China, ora ofuscada pelos combates na Ucrânia.
Economistas experientes como Larry Summers preveem recessão nos EUA e veem erros na economia. São muitas variáveis em movimento: economia, emprego, qualidade de vida, dívida pública, pressões sobre o dólar, o principal produto americano. São questões fundamentais sobre o funcionamento do dinheiro. Quais são os objetivos? Poderia o FED controlar a moeda mundial, independentemente dos Estados Unidos? Como um arranjo desse tipo poderia ser implantado?
Kishore Mabubani, autor de “A China Venceu?”, escreveu que “a disputa vai depender da vitalidade espiritual dos Estados Unidos, e de seu êxito em evitar demonstrações de indecisão, desunião e desintegração interna. Em vez de gastar recursos preciosos em uma ameaça chinesa ideológica inexistente, deveria voltá-los para a revitalização espiritual de sua sociedade.”
O relacionamento entre nações deveria seguir um procedimento ético e equilibrado, principalmente no comércio. A cobiça por riqueza e poder afastou os seres humanos da espiritualidade e acabou criando a tendência antinatural de superconcentração das atividades financeira e fabril, gerando desequilíbrio econômico mundial, dependência financeira das nações, queda de empregos e renda.
A concentração do poder vai despertando medo de perda de força econômica e financeira, provocando retaliações e atitudes belicosas inesperadas. A paz mundial fica em suspenso: estabilizará, retrocederá ou o pior ainda está por vir? Ao surgirem dificuldades imprevistas a partir da pandemia, os pontos críticos foram aparecendo, afetando o consumo e o comércio mundial, repercutindo em escassez e inflação. Qual o caminho a seguir?
Em vez de fortalecer o querer próprio, as pessoas vão abrindo suas mentes para influências externas. Quanto mais mergulham nisso, maiores são os riscos; a longo prazo acabarão sendo uma simples extensão das máquinas, incapazes de agir por si e sem condições de ouvir o eu interior que amplia a capacidade de discernir com clareza e expande o bom senso intuitivo.
(*) – Graduado pela FEA/USP, coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: [email protected].