Doacir Gonçalves de Quadros (*)
Em 1980 os evangélicos correspondiam a 6,6% da população brasileira, o equivalente a 7,2 milhões de pessoas.
Em 2010, segundo o IBGE, esse número passou para 42,3 milhões de pessoas, o que equivale a 22,4% da população do país. Paralelamente a esta expansão numérica da população neopentecostal observa-se outro fenômeno: a presença cada vez maior deste grupo na arena política por intermédio de políticos que se declaram defensores dos valores evangélicos.
Um levantamento feito em agosto de 2014 pela Broadcast Político mostrou que naquela eleição houve um aumento de 45% no número de candidatos, comparando com a eleição de 2010, que se identificaram no horário gratuito como pastor, bispo e autoridades da igreja evangélica. Segundo o TSE, ao final da eleição de 2014 a bancada evangélica presente na Câmara Federal conseguiu reeleger 53% dos seus deputados, índice que se aproxima ao percentual geral de candidatos reeleitos, que atingiu 56,5%.
O peso da bancada evangélica tem contribuído para que este grupo ocupe espaços centrais na Câmara, como é o caso da presidência de partidos e o comando de importantes comissões parlamentares. Em 2016, outro levantamento, agora feito pela revista Veja, mostrou que 250 candidatos a prefeitos e vereadores adotaram em suas campanhas, ao lado de seus nomes, suas funções hierárquicas evangélicas.
Após eleitos observa-se que a bancada evangélica vem confirmando o seu discurso: um comportamento pautado na defesa de bandeiras socioeconômicas direitistas tradicionais e na defesa dos valores morais e familiares. No que tange à decisão do voto, estudos recentes sobre o comportamento eleitoral mostram a fidelidade do eleitor evangélico ao seu local de culto e à autoridade religiosa local. Se estas autoridades fizerem questão, podeminfluenciar no voto dos eleitores evangélicos durante os cultos.
Tal conclusão é corroborada por indicadores demonstrando que os evangélicos são os fiéis mais assíduos aos cultos e apresentam baixo índice de exposição às informações oriundas dos diferentes veículos de imprensa. Consequentemente, presume-se que suas atitudes e opiniões sobre o mundo da politica têm grandes possibilidades de se formar a partir do contato direto com outras fontes primárias de informação como família, amigos, local de trabalho, além das autoridades religiosas.
Essas informações permitem compreender melhor a presença cada vez mais frequente de estratégias eleitorais direcionadas para conquista do voto evangélico. Em 2014 o tema religião ocupou a agenda eleitoral durante a campanha para o governo do Rio de Janeiro e se mostrou um apoio decisivo para levar a candidata do PSB ao segundo turno na eleição presidencial. Em 2016, no Rio de Janeiro, foi eleito para prefeito um líder evangélico e ex-bispo da Igreja Universal do Reino de Deus.
Portanto, pelo peso do eleitorado neopentecostal no Brasil é importante levarmos em conta que hoje em dia eles se colocam como um importante aliado para o sucesso eleitoral dos aspirantes ao Executivo e Legislativo no país.
(*) – É professor de Ciência Política e do mestrado acadêmico em Direito do Centro Universitário Internacional Uninter.