Jeanfrank T. D. Sartori (*)
“Dar laranja mim, dar comer laranja mim, comer laranja dar mim, comer laranja dar mim você”.
Até hoje essa confusa frase com dezesseis palavras é a mais longa a ser proferida por um não-humano, feito este alcançado nos anos 1970 pelo chimpanzé Neam Chimpsky (ou Nim para os íntimos) com o uso de linguagem de sinais. O respectivo estudo, da Universidade de Colúmbia (Nova Iorque, provou que os animais eram sim capazes de adquirir algum nível elementar de linguagem.
Apesar de um grande mérito para Nim, quando o comparamos a um humano, vemos facilmente como uma criança com menos de dois anos de idade é capaz de verbalizar uma frase mais complexa e organizada do que essa. O pouco mais de 1% de diferença genética entre nós e os demais primatas proporciona-nos os meios para produzir um poema, uma sinfonia, um teorema matemático, uma dissertação ou E=m.c².
E não apenas a capacidade de comunicar neste nível de complexidade nos torna únicos, mas também outras duas habilidades sustentaram, juntas, o estabelecimento de todos os nossos avanços civilizatórios: aprender e lembrar. Esse tripé cognitivo permitiu-nos criar, compartilhar e fazer uso de algo que, neste patamar, é restrito à espécie Homo sapiens (que significa “homem sábio” ou “homem que sabe”) e que, de longe, é inatingível a todos os demais seres viventes: o conhecimento.
Esse tesouro essencialmente humano, nem sempre adequadamente valorizado, encontra-se manifesto em duas grandes modalidades conhecidas pelos termos eternizados por Polanyi (1962): tácito e explícito. Na primeira, o conhecimento encontra-se exclusivamente em nossa mente, incluindo até aquilo que por vezes sequer conseguimos explicar. Podemos entender como algo individual, restrito àquele que o detém. Por sua vez, quando há a manifestação escrita, eletrônica ou em outra forma para a qual se gere algum tipo de registro, tem-se então o chamado conhecimento explícito.
E para as organizações (empresas, órgãos públicos, ongs etc.), este é igualmente – ou até ainda mais – valioso. Afinal, é ele que permite a inovação, a melhoria contínua, a eficiência. Apesar dos gestores sempre prestigiarem esses benefícios, muito frequentemente é negligenciado o cuidado em preservar na firma o conhecimento nela produzido ou colocado em uso pela sua equipe – o que representa um perigo e, muitas vezes, um custo alto (especialmente quanto é grande a rotatividade de pessoal), mas que não se vê nas demonstrações contábeis.
Afinal, além daquilo que é feito e seu resultado, também a forma como se faz é uma parte importantíssima da cultura e da operação de qualquer organização. Mas uma empresa pode ter conhecimento? Não apenas pode, como deve! Por mais que ela não tenha uma mente, ele pode ser apropriado e preservado em sua forma explícita, por meio de comunidades de práticas, meios eletrônicos, relatórios, manuais etc.
Pode ser, ainda, preservado na modalidade tácita quando se cria um ambiente que favoreça a socialização do conhecimento entre as pessoas que ali trabalham.
Com essas e outras iniciativas, evita-se que a saída de um colaborador ou mesmo de uma equipe cause uma queda brusca de desempenho, a interrupção de atividades, a redução da qualidade e o retrabalho (bem como o custo) de reaprender. Assim, podemos dizer que o conhecimento organizacional é o conjunto dos conhecimentos individuais que se tornaram explícitos.
Na era em que vivemos, muito se fala – e com razão – sobre a importância de dados e informações, bem como grandes costumam ser os gastos e esforços em sistemas, equipamentos, backups. Mas as organizações de todos os portes ainda precisam, em maior ou menor grau, investir e dedicar-se mais na perpetuação daquilo que é uma riqueza ainda maior, mesmo que não apareça em seu balanço patrimonial.
Pode-se assim, com o uso das conhecidas ferramentas e metodologias, criar uma vantagem competitiva em seu sentido amplo: algo valioso, perene e de difícil imitação pela concorrência.
(*) – Mestre em Gestão da Informação (UFPR), especialista em Inteligência de Negócios (UP) e bacharel em Administração (UFPR), é doutorando e consultor do Grupo Positivo.