Fabiano Dias (*)
O Bitcoin é resultado de anos de estudo de criptografia, sintetizado em uma tecnologia concebida para ser dinheiro. O Bitcoin combina todos os elementos de sistemas de ponta atuais, como Código livre e rede P2P (peer-to-peer), ou seja, funciona sem um servidor de dados central. Tudo roda em cada máquina presente na rede. Ninguém presente na rede pode “desligar” ou sequer executar alguma alteração sem que toda a rede reconheça aquela alteração como legítima.
Nenhuma dessas tecnologias ou tendências seria possível sem o verdadeiro germe revolucionário – ou disruptivo, em um jargão mais sofisticado -, que é o Software Livre – movimento Open Source – que consiste em publicação de programas para computador que podem ser usados e modificados ao bel prazer do usuário. Essa ideia nasce lá nos laboratórios do MIT, nos anos 80, com Richard Stallman e o manifesto GNU. A ideia de Stallman era que, se eu gosto de um software, ele é útil para mim, então ele pode ser útil para outros e por isso ele deve permitir uso livre e irrestrito. O poder de mudar e customizar sem ter que pagar por permissões, sem até ter que pedir permissão, somente mantendo o crédito ao criador original – o chamado “copyleft”, antagonizando o copyright, que é a proteção legal de criações.
Além de aberto e livre, o software é anônimo, ou seja, ele passa a não ter mais uma referência. Por ser anônimo e escasso, gera um valor constante ao longo do tempo e preferência temporal, onde você pode ter certeza de que está acumulando um bem, de fato, escasso, o que não seria possível na economia atual.
Um ente sem identidade assina e comprova sua anonimidade mantendo as suas próprias moedas intactas desde o lançamento até hoje. Uma fortuna que faria dele, Satoshi Nakamoto, uma das pessoas mais ricas do planeta.
A anonimidade é uma camada de segurança, pois elimina o papel de uma figura central tomando decisões e direções para o sistema. Por ter a escassez como característica, o Bitcoin se torna a única moeda finita e livre do controle dos bancos centrais estatais, dando aos seus usuários uma possibilidade real de preferência temporal, ou seja, de confiar que esta moeda vai se tornar mais valiosa conforme o tempo passa.
O Bitcoin é um verdadeiro ouro digital descentralizado, sem fronteiras e não confiscável. Com um limite de oferta de 21 milhões, é incompreensível pensar como algo pode ser digital e escasso. Se reuníssemos todos os milionários de dólares do mundo (aproximadamente mais de 57 milhões), não haveria o suficiente nem para meio Bitcoin por pessoa. Na América Latina, essa escassez é inerentemente compreendida: as pessoas optam por receber salários em Bitcoin para ajudá-las a agregar mais valor ao seu trabalho enquanto contornam a inflação.
(*) Diretor de Negócios Internacionais pela Bitwage, uma das pioneiras e líder do setor de criptomoedas, trabalha com criptomoedas desde 2015 e já foi conferencista e participante dos principais eventos ao redor do Globo, com Bitconf BR, Labitconf, Decentralizar, Bitcoin & Blockchain Prague e Viva Tech Paris.