Cristina Fortes (*)
Estamos vivendo um tempo literalmente de transformação.
Assim tem sido os dias diante à pandemia do Covid-19 que já infectou milhares de pessoas no mundo e obrigou a países a fecharem suas fronteiras, e a colocar seus cidadãos de quarentena. Tal isolamento está não só afetando o nosso comportamento social como também antecipando mudanças nos processos de trabalho.
Uma vez que estamos vivendo uma grande disrupção na qual muitas empresas estão se vendo forçadas a se transformarem e a mudarem rapidamente suas formas de atuação. O momento é de assimilação dessa nova realidade, o que demandará esforço emocional e de infraestrutura. É indiscutível que o evento do Covid-19 colocou todos na mesma página em apenas uma semana.
Vários paradigmas já foram quebrados e o êxito do trabalho remoto será vital para garantir a sobrevivência dos negócios e, consequentemente, para manter o trabalho das pessoas. Há uma pressão nesse novo contexto pela reinvenção dos negócios, em meio ao caos, através do mundo virtual. Sem dúvida, nasce uma nova era cujo marco jamais iremos esquecer.
Sobretudo porque estamos vivendo um dos momentos mais vulneráveis da nossa existência, quando temos uma grande oportunidade de humanizar as relações e, ao mesmo tempo, rediscutir novas estruturas, hierarquias e relações de poder mais adequadas ao novo contexto e que já estavam na agenda de muitas organizações. Sem falar que a flexibilização das leis trabalhistas em curso também impactarão as relações de trabalho e certamente remodelarão as futuras parcerias entre empregado e empregador.
Para navegar nessa nova onda que vem surgindo da relação entre chefes e colaboradores, primeiro é preciso que os líderes entendam rapidamente qual é o seu papel e adotem a mentalidade que melhor se adapta a esse contexto. Afinal, o método comando e controle não sobreviverá a essa nova realidade.
A inspiração dos times, o entendimento das necessidades individuais e o foco na produtividade será muito mais importante para os resultados do negócio. Sem dúvida, haverá uma revisão e um desafio sobre como algumas atividades podem ser realizadas de forma diferente. Somos, ou éramos, ainda muito dependentes do presencial e alimentamos algumas fantasias a respeito.
Contudo, o momento nos pressiona a buscarmos por novas competências de liderança e o estabelecimento de acordos claros de resultados bem como novas formas de acompanhar o trabalho.
Claro que algumas empresas já estavam adotando a prática de home office como estratégia de retenção e engajamento. Mas, nesse momento, os desafios para liderar profissionais e equipes apresentam novas exigências.
As pessoas não estão somente em home office. Estão trabalhando preocupados com a família, sobrecarregados com as tarefas domésticas e, muitos, estão com filhos dentro de casa para dar atenção e atender as diversas necessidades. Saber que o isolamento em algum momento vai impactar o emocional e que as pessoas estão dominadas pelo medo por mais esperançosas que possam estar, exigirá alta sensibilidade do líder para lidar com essa jornada que está apenas começando.
Para isso é preciso não só ter abertura, escuta individual para entender como cada um está lidando com os desafios dos seus papéis, mas também é uma ótima oportunidade de despertar o protagonismo dos colaboradores, estabelecer relações de confiança, estimular o trabalho em colaboração e expressar a empatia que normalmente surge nesses cenários mais críticos.
Percebe como o líder terá um papel central nessa fase? E ele será avaliado pela sua capacidade de adaptação, tendo assim que abrir mão de antigos hábitos para a construção de novos modelos que vão permitir que o trabalho aconteça em um contexto saudável e leve, mas sendo também capaz de obter o comprometimento e responsabilização dos seus colaboradores.
São justamente essas competências que serão desenvolvidas nesse período que farão a diferença para as pessoas e será um diferencial competitivo para os novos tempos.
(*) – É Consultora e Diretora da Consultoria LHH no Rio de Janeiro.