Maria Carolina Avis (*)
Você é do tempo em que nos canais de TV havia empresas vendendo produtos?
Pois é. Quem diria que um conteúdo analógico seria a inspiração de uma das principais inovações deste ano. A promessa é o Live Commerce, Live Shopping, Shopstreaming ou venda por live, como preferir. Trata-se de uma transmissão ao vivo com o objetivo de vender produtos. A pandemia mundial acelerou bastante a famosa transformação digital, ou seja, as pessoas passaram a comprar mais pela internet.
Só no primeiro semestre de 2020, foram mais de sete milhões de novos compradores e 47% de crescimento no volume de vendas online. Mas mesmo diante deste cenário, ainda existe muita gente que tem receio desse tipo de compra, não mais por questões de segurança, mas pela experiência, pela falta do contato com o produto.
A experiência de ver o produto funcionando, de ouvir explicações, é o que impedia muitas pessoas de fazer compras em um site. Uma pesquisa feita pelo Google mostra que o brasileiro está aberto ao comércio digital mais interativo. 20% das pessoas disseram já ter usado alguma ferramenta de venda online com interação, e 27% disseram que não conhecem o live commerce, mas que têm interesse em experimentar.
Mas essa realidade pode ser diferente com a chegada da live commerce. Imagina só: a loja que você gosta entrando ao vivo para mostrar promoções exclusivas, funcionalidades de produtos e muitas vezes quem apresenta é um influenciador. A tendência iniciou na China, que fatura bilhões com este modelo de venda. Um shopping local fez três transmissões ao vivo com 12 horas de duração que foram vistas por 130.000 pessoas. A previsão é de que este modelo tenha um faturamento médio mais de 100% maior do que foi em 2019.
O YouTube começou com o projeto Vitrine Digital e selecionou o Brasil para testar essas lives transmitidas pela página do Google Brasil, no YouTube, que teve mais de 500 empresas inscritas, querendo participar. As empresas selecionadas têm em média 40 minutos para expor seus produtos. A primeira experiência de live commerce foi o Show da Black Friday, que alcançou cinco milhões de usuários em cinco horas.
Quem também entrou no jogo foi o Instagram, que libera a funcionalidade “Instagram Live Shopping” aos poucos para contas que usam o Instagram Checkout, limitado a marcas e criadores qualificados dos Estados Unidos. Ainda não se tem certeza sobre uma data para que o Instagram Checkout e o Live Shopping cheguem ao Brasil. Pelo Instagram, a funcionalidade é bem parecida com o Instagram Shopping, em que é adicionada uma tag ao produto. Os produtos em destaque são mostrados na parte inferior da tela, durante toda a transmissão.
Assim, enquanto se fala sobre, o usuário pode clicar e fazer a compra de forma bem facilitada. Visivelmente, o Instagram vem tentando fortalecer o comércio online através da rede social, e obviamente, acaba priorizando os conteúdos neste formato. Segundo o próprio Instagram, de fevereiro a março, houve um aumento de 70% nas visualizações em lives na rede social. Um dos grandes pontos positivos é o fato de permitir a visualização também via desktop, ou seja, torna a experiência muito mais próxima e versátil.
O formato chegou, também, para “reanimar” o público, que havia desanimado das lives. De acordo com pesquisas do Google, as buscas por live caíram 75% em julho, em comparação com abril. As lives para comércio eletrônico podem conquistar novamente os internautas, por ser uma grande novidade, além de movimentar o mercado. A live é uma excelente estratégia para uma marca poder se relacionar com o público, de forma pessoal e espontânea. Por serem vídeos sem edição e sem produção, tornam a experiência mais próxima, o que incentiva muito o engajamento.
(*) – É professora de Marketing Digital do Centro Universitário Internacional Uninter.