Valdir Cardoso (*)
O que está em debate é a condição para o avanço das inovações na indústria da mobilidade.
Diante do atual cenário de inovações na indústria da mobilidade, os times de engenharia já não podem trabalhar em áreas de desenvolvimento desconectadas, cada qual fazendo a sua parte para entregar o seu melhor – como se nenhuma influenciasse a outra. Integrar diferentes disciplinas numa mesma plataforma de desenvolvimento é o grande desafio da engenharia para inovar e se manter competitiva.
A indústria chegou num estágio de desenvolvimento em que precisa atender simultaneamente diversos requisitos – muitas vezes conflitantes – que envolvem diferentes áreas como segurança, custo e durabilidade. Talvez o grande segredo da engenharia moderna seja formular o problema para conseguir colocar todas as necessidades do cliente em cima de equações que representam as diversas áreas da Física envolvidas.
Até então avaliada como item secundário, a conectividade se tornou um diferencial de mercado. Cada vez mais os motoristas valorizam as avançadas centrais multimídias, mas não desejam, por exemplo, perder a visibilidade na direção quando acessam os botões. Este é somente um exemplo prático que demonstra o quão importante é observar simultaneamente os diversos requisitos na hora do desenvolvimento.
Essa perfeita integração entre os diversos sistemas de um produto, que devem funcionar de maneira colaborativa, representará aos novos veículos a mesma revolução observada nos computadores com o advento da internet. Os carros já estão deixando de serem equipamentos mecânicos para se tornar computadores conectados, que conversam com outros computadores para saber o que estão fazendo.
Dessa maneira, o que está em debate é a condição para o avanço das inovações na indústria da mobilidade, que precisa criar protocolos onde áreas que originalmente eram independentes passem a se comunicar. Somente assim, os times de engenharia conseguirão desenvolver produtos realmente competitivos, que se encaixem nas tendências de mercado.
A integração de áreas precisa ser fomentada desde a fase conceitual do produto, afinal decisões iniciais não contam com protótipo físico. O primeiro passo então é agregar tecnologias de simulação nas etapas iniciais do projeto. Dada a evolução dos sistemas computacionais de simulação, que hoje conseguem cada vez mais aproximar o mundo real do virtual, já é possível interagir com um produto virtualmente.
Já no estágio de desenvolvimento, é necessário dispor de uma plataforma que combine várias disciplinas, como análise estrutural, dinâmica de fluídos e dirigibilidade, todas num ambiente onde seja possível fazer as devidas conexões. Vale lembrar que de nada adianta ter uma ferramenta que integre testes e simulações se não houver know how. Portanto, a empresa que tiver capital humano certamente avançará.
A indústria também precisa dispor de tecnologias de testes eficientes, que sejam mais inteligentes para que façam a interface do ser humano no produto e respondam as perguntas o mais rápido possível, afinal as empresas precisam estar preparadas para responder a mudanças que acontecem de maneira cada vez mais drástica. É preciso evoluir nas práticas de engenharia para estar à altura desses novos desafios.
Agora é a onda da multidisciplinaridade. Ou a indústria surfa nessa onda agora, ou perde a chance de competir. Quem tiver interesse em discutir o assunto está convidado para o 15º Simpósio Sae Brasil Automaker de Testes e Simulações, que reunirá especialistas de montadoras, empresas de testes e de simulações, consultorias e universidades dias 15 e 16 de agosto, no Centro de Eventos Pro Magno, em São Paulo.
(*) – É presidente da Altair Brasil e chairperson do 15º Simpósio Sae Brasil Automaker de Testes e Simulações.