Marcos Morita (*)
Certamente você já conviveu em sua vida profissional com tipos heliocêntricos.
Em astronomia, helicocentrismo foi a teoria criada por Nicolau Copérnico, polonês que viveu entre os séculos XIII e XIV, cuja hipótese baseava-se que a Terra e os demais planetas giravam em torno do Sol, opondo-se a teoria vigente do geocentrismo, a qual tinha a Terra como centro.
Estes personagens são encontrados em todo tipo de empresa: grandes, médias, pequenas, multinacionais, nacionais e familiares, praticamente de qualquer segmento, exceção feita talvez a ONGs e instituições de caridade. Vistos em vários níveis hierárquicos, são mais notados a medida em que galgam a pirâmide hierárquica, por lá nasceram ou foram criados: empreendedores, sócios e herdeiros.
Trabalhar para ou ter um heliocêntrico como chefe direto é garantia de dor de cabeça, irritação, gastrites, úlceras e problemas emocionais. Vejamos como isto ocorre no dia a dia.
Ampulheta – acredito que os relógios dos heliocêntricos marquem o tempo de forma diferente. Desrespeitar agendas, fazer que os demais esperem, chegar ou sair no meio da reunião, falar ao celular e pedir para que recomecem a apresentação parece lhes trazer certo prazer ou sensação de poder, a despeito dos presentes que por lá chegaram pontualmente;
Astro Sol – sua agenda é o próprio astro, marcando e desmarcando compromissos próprios e alheios, em geral em cima da hora, causando pânico aos envolvidos, os quais precisam reagendar ou cancelar visitas, emitir ou reemitir passagens aéreas, enfim virar-se nos trinta. Um exemplo clássico é a personagem Miranda Priestly, interpretada por Meryl Streep em o Diabo Veste Prada, cujos pedidos à pobre secretaria soavam no mínimo insólitos;
Fotossíntese – conheci tipos que literalmente pareciam alimentar-se de luz solar. Desta maneira, utilizavam o turno do meio dia as duas para agendar reuniões ou discutir pendencias com o time, mencionado que aquele era um horário propicio, seja pela calma no escritório ou ausência de telefonemas. Perguntar se alguém estava com fome ou tinha agendado compromissos estava fora de cogitação;
Colegiado – habituado a ser o centro do universo, costuma trazer todos os planetas do sistema para escutarem suas ponderações e ideias, interrompendo-os a qualquer hora e exigindo presença imediata. Apesar de parecerem colaborativos, dificilmente aceitam opiniões divergentes, fazendo com que os presentes sintam-se desprestigiados e sem importância e no longo prazo, apenas concordem com as propostas, tais quais bois de presépio;
Engessamento das estruturas – concentração e demora na tomada de decisão, falta de criatividade e comprometimento das equipes, desconfiança e medo de repreensões, cansaço e desmotivação pela falta de controle sobre a própria agenda, podem ser consequências do excesso de brilho provocado por um chefe heliocêntrico, exceção concedida a mentes brilhantes de comportamento irascível tais como Steve Jobs e Bill Gates.
Voltando à história, foi Galileu Galilei, no século XV, que através do uso de lunetas, aperfeiçoou o modelo proposto por Nicolau Copérnico. Considerado perigoso pela Igreja Católica, enfrentou o tribunal da Inquisição por discordar do modelo geocêntrico. Vale salientar que a aceitação pela Igreja ocorreria somente cinco séculos depois.
A quem identificou-se, sugiro que não demore tanto quanto a Igreja para aceitar e mudar sua posição no sistema solar, seja para o bem de sua empresa ou de seu emprego, ainda mais em tempos nublados e bicudos como agora. Como já dizia Benjamim Franklin: ser humilde com os superiores é obrigação, com os colegas cortesia e com os inferiores, nobreza. Pense nisto antes de tomar sua próxima atitude heliocêntrica. Seus colaboradores lhe serão eternamente gratos.
(*) – É executivo, professor, palestrante e consultor. Sua palestra, As 4 Chaves do Pensamento Estratégico, vista por centenas de executivos, aborda de maneira lúdica e participativa, temas como definição de metas, inovação, gerenciamento do tempo e motivação (www.marcosmorita.com.br).