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Família, família, negócios à parte. Será?

em Artigos
quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Rodrigo Ribeiro (*)

Depois de um reinado próspero o rei morreu. Na linha de sucessão, o filho mais velho é invejado pelo irmão mais jovem, que dá um sumiço no herdeiro, assume a coroa e instala a desconfiança.

Parece um enredo distante de filmes, mas de forma semelhante e menos dramática, a sucessão em empresas familiares pode gerar muitos capítulos de uma história cheia de emoções. De um lado, a superação e vitória do fundador, a empresa, funcionários e clientes. Do outro, uma família, feliz, muito em parte pelo senso de conquista nos negócios da família. No meio, podendo colocar em risco todo o resto da história, a sucessão na liderança dos negócios.

O assunto é delicado. Justamente por tratar de um patrimônio, material e emocional, a capacidade de separar os sentimentos, de todas as consequências financeiras, societárias e trabalhistas, numa tomada de decisão sobre o futuro, põe em prova o legado construído. No Brasil o tema Planejamento sucessório empresarial se mantém como assunto de grande discussão já que, em pesquisas sobre o tema, apontou-se que 75% de todas as empresas do país têm origem familiar. Contudo, historicamente, apenas 30 entre cada 100 empresas familiares chegam à segunda geração e apenas 5 destas chegarão à terceira geração.

Por mais que um grupo familiar tenha expertise em gestão, destrinchar os detalhes de uma sucessão de forma isenta é desafiador e pode requerer apoio externo. E é nesse momento que o profissional do direito tem papel crucial na orientação dos membros do grupo. Não só para materializar legalmente as escolhas de gestão e sucessão, mas para definir instrumentos jurídicos adequados que impeçam a atitude arbitrária de determinados membros familiares que pode causar o comprometimento do patrimônio daquela empresa, e eventualmente, a quebra do vínculo familiar.

Esse apoio de terceiros é também estratégico, pois transfere para um representante independente a tarefa de apresentar assuntos que os próprios familiares têm dificuldade de discutir e preserva a clareza nas decisões sobre o rumo a ser tomado. Os processos podem ser terceirizados, mas as decisões, não. Enquanto um advogado ou consultor pode ajudar a elencar as alternativas societárias e métodos para executar o plano, em geral, apenas o fundador e familiares mais ativos no negócio têm entendimento do “espírito” da empresa, das emoções e expectativas existentes.

Nessa hora, os valores pessoais e as prioridades familiares pesam tanto quanto o formato societário. Vencer esta etapa não é fácil, mas a construção em “equipe” pode se tornar o fator decisivo para que as histórias de sucesso continuem a caminhar juntas e por muitas gerações.

(*) – Engenheiro Elétrico pela Universidade Mackenzie, MBA pela Brigham Young University, é gerência G=geral do Cerqueira Leite Advogados, empresa nacional de serviços jurídicos.