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Expectativa para o crescimento econômico do Brasil para 2020

em Artigos
segunda-feira, 13 de abril de 2020

Josilmar Cia (*)

O relatório Focus trouxe uma expectativa de que a economia brasileira encolherá 1,18% contra uma queda de apenas 0,48% da semana passada.

Infelizmente, a tendência é que nas próximas semanas esse indicador fique ainda mais negativo, pois nem todos os analistas atualizaram as suas projeções. Estamos enfrentando uma crise inédita, em que é difícil dimensionar (i) o tempo de quarentena (ii) como vai ser a flexibilização do isolamento e (iii) qual vai ser a velocidade de recuperação econômica. Na última pandemia, a do vírus H1N1, o mundo estava mais preparado.

Já havia um medicamento que ajudava no tratamento dos casos graves, o Tamiflu, e os sistemas nacionais de saúde puderam responder ao aumento de internações. E no ano seguinte, a vacina contra a Influenza ampliou a sua cobertura virótica incorporando o H1N1. Nessa pandemia da Covid-19, não há (até o momento) um medicamento comprovadamente eficaz e os pacientes graves costumam ficar muito tempo nas UTIs fazendo uso intensivo de respiradores hospitalares.

Essa é a grande preocupação dos profissionais de saúde, pois a capacidade instalada de hospitais, o número de profissionais de saúde e os estoques de materiais básicos de proteção pessoal ficarão comprometidos se não houver nenhuma medida que diminua o ritmo de contaminação. Daí, a resposta da área médica é de impor medidas drásticas de isolamento social, diminuindo a circulação de pessoas e paralisando em grande parte a atividade econômica.

Alguns países tentaram evitar a quarentena para manter a economia funcionando, mas foram pouquíssimos países que conseguiram. Talvez o quadro mais dramático seja o da Lombardia, no norte da Itália, onde o prefeito pediu desculpas à população e se arrependeu de não ter adotado a quarentena mais cedo. Pois, ao tentar manter a economia funcionando, ele acabou tendo mais infectados e mais mortos sem ter se livrado da recessão, ou talvez até piorado a recessão.

O impacto na economia depende de como reagiremos à pandemia e quais novas informações positivas e negativas chegarão. As projeções vão de uma queda de 1 a 6% no crescimento do PIB nesse ano. Como essa crise atinge o país no início do ano, acredito que estamos mais próximos do pior cenário.

Em compensação, o ano de 2021 deve ter um crescimento acima de 3%, assumindo uma recuperação cíclica somada a um novo ciclo de crescimento sustentável baseado nas reformas econômicas aprovadas recentemente (previdência e trabalhista), as que estão em discussão no congresso (plano Mansueto e PEC emergencial) e as que deverão ser debatidas e implementadas até 2021, como a reforma tributária e flexibilização do orçamento.

Talvez tenhamos nesse ano “a pior recessão da história”, mas dessa vez não foi culpa de nenhum plano econômico mal concebido, todos os países foram impactados em maior ou menor grau. De qualquer forma, não podemos abrir mão de nossas conquistas do ponto de vista de política econômica, com uma taxa de inflação e taxa de juros historicamente baixas e, principalmente, gastos do governo sob controle e com trajetória sustentável.

Com essas “âncoras de credibilidade” o Brasil poderá sair da crise e apresentar um crescimento econômico mais robusto e menos volátil no futuro.

(*) – Graduado em Economia, mestre e doutor em Administração de Empresas, é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie.