Alexandre Campoli (*)
A contabilidade sempre foi uma necessidade humana. Primeiro no sentido da sobrevivência, era vital saber a quantidade de alimentos que havia em estoque para os tempos de escassez.
Mais tarde, com a evolução das sociedades, os governos passaram a demandar o registro de tudo o que arrecadavam e o que tinham como tesouro. Assim como as empresas, que, posteriormente, tiveram suas obrigações com esses governos.
Apesar de ser uma atividade corriqueira, da qual todo empresário precisa, o trabalho do contador, muitas vezes, é visto apenas pelo lado da obrigação legal.
Como algo que deve ser considerado, é claro, mas com o menor esforço possível, apenas para evitar qualquer problema. E que, na maior parte das vezes, acaba sem receber a devida atenção. Agora, imagine a seguinte situação. Sua empresa está em fase de expansão, e surge uma oportunidade de fornecer produtos ou serviços ao setor público. Algo que pode significar uma alavanca nos planos de desenvolvimento de seus negócios.
Mas, ao checar a documentação necessária para participar do processo licitatório, você descobre que os balanços da companhia não estão como deveriam ou nem sequer foram feitos. Isso pode parecer exagerado, mas é mais comum do que você imagina. E apenas em situações como essas os empresários brasileiros costumam dar a devida atenção aos seus números, balanços e processos contábeis.
Quer outro exemplo, com consequências ainda maiores? Uma empresa de locação de equipamentos está desobrigada da emissão de nota fiscal. Isso porque a nota fiscal de serviços está ligada ao pagamento de ISS, mas, especificamente nesse caso, pela ausência de mão de obra na realização do serviço, esse imposto não é devido. Basta, então, apenas um simples recibo para a operação.
Desavisada dessas peculiaridades, uma companhia passou tempos emitindo notas fiscais, e acabou multada pelo uso indevido do documento, e em valor altíssimo. Nesse caso, uma simples checagem de informações teria evitado o prejuízo financeiro, além do trabalho desnecessário.
Esses são apenas alguns dos casos que acompanhamos diariamente no desafio de transformar a contabilidade em uma ferramenta gerencial de negócios. Os números de sua empresa podem te dar diagnósticos, indicar direções, proteger seu patrimônio e significar a diferença entre o sucesso e o fracasso.
Costumo fazer uma comparação entre os empresários norte-americanos e brasileiros. Nos EUA, o foco é nos resultados, o que os números dizem e de que forma lidamos com eles. No Brasil, há muito mais conexão emocional com os negócios, a história da empresa, o que foi construído, a relação do dono. Isso, de maneira alguma, deve ser encarado apenas como algo negativo.
Mas é preciso compreender que negócios envolvem gestão, produtividade, planejamento, proteção do patrimônio, relação custo-benefício e muito mais.
Sem dúvidas, as empresas que abordam essas questões de forma mais eficaz, e de olho nos números, estão mais bem preparadas para enfrentar os desafios do mercado e buscar o sucesso a longo prazo.
(*) – É especialista em Contabilidade, bacharel em Direito e fundador da Consultoria AS Campoli (https://www.ascampoli.com.br/).