João Guilherme Sabino Ometto (*)
Boa parte da energia renovável que produziremos para nossa economia virá do cultivo da terra.
É interessante e estratégico para o Brasil, relatório que acaba de ser divulgado pelas Nações Unidas, mostrando que a totalidade da energia consumida no Planeta poderá ser proveniente de fontes renováveis até 2050. Além disso, os custos dessa nova matriz têm potencial para ser mais baixos do que os dos combustíveis fósseis nos próximos dez anos.
Nesse cenário que se apresenta, decisivo para o meio ambiente e a reversão das mudanças climáticas, nosso país está na vanguarda: segundo os últimos dados oficiais do Ministério das Minas e Energia (MME) de 2015, divulgados em maio de 2016, as fontes renováveis totalizaram participação de 41,2% na matriz nacional (sendo 16,9% relativos à cana-de-açúcar, cada vez mais estratégica). Nosso indicador é quase três vezes superior à média global, de apenas 13,8%.
O País também se destaca no tocante aos dados específicos da geração elétrica, com 74% de renováveis, ante 23,8% no restante da Terra. Essas informações constam do boletim Energia no Mundo 2014-2015, divulgado anualmente pela Secretária de Planejamento e Desenvolvimento Energético do MME. Ao se confrontar seu conteúdo com o novo estudo agora apresentado pelas Nações Unidas, realizado pela Rede de Energias Renováveis para o Século 21 (REN21), em parceria com a ONU Meio Ambiente, percebe-se com clareza a posição diferenciada e privilegiada do Brasil.
Nosso país tem tudo para avançar ainda mais, cumprindo os compromissos que assumiu no âmbito do Acordo de Paris, de aumentar a participação das fontes renováveis na matriz nacional para 45%, até 2030. Isso, além da geração hidrelétrica, que, em tese, responderia pelos restantes 55% no total utilizado para mover toda a nossa economia. Assim, tornam-se decisivos o etanol, o biodiesel/bioquerosene, a energia gerada a partir da biomassa (bagaço e palha de cana, eucalipto e outras fontes), solar e eólica.
Estamos na frente, mas não ganhamos o jogo. Ainda carecemos de transição tecnológica, uma das bases do Acordo de Paris, bem como linhas de financiamento, para que a indústria de transformação seja cada vez menos intensiva em carbono e mais competitiva. Como impulso, o aporte de recursos financeiros internacionais do Fundo Verde (Green Climate Fund) e de outras fontes, internas e externas, é avaliado como essencial pelos setores produtivos.
É importante enfatizar o significado do agronegócio nesse contexto, pois boa parte da energia renovável que produziremos para nossa economia e o mundo, nesse processo de transformação contemplado no estudo das Nações Unidas, virá do cultivo da terra. Já demos imensa contribuição ao desenvolver no País tecnologias como a dos veículos flex e ao demonstrar na prática que os biocombustíveis são econômica, social e ambientalmente viáveis e corretos.
Para consolidar sua posição no mundo novo sem carbono, é fundamental que o País também proteja o meio ambiente, conforme preconiza a Campanha da Fraternidade 2017, promovida pela CNBB e cujo tema é coerente com nossos compromissos perante o Acordo de Paris: “Biomas brasileiros e defesa da vida”. O Papa Francisco, que tem defendido posições corajosas e avançadas, já observava, em sua Encíclica Laudato Si, em 2015, a necessidade de respeito à criação divina e a obrigação fraterna do homem em preservá-la.
Estamos vivenciando a quarta revolução industrial, denominada Manufatura Avançada. O próximo passo, também em curso, é a Economia das Energias Renováveis, que poderá transformar o Brasil numa grande potência. Precisamos trabalhar com determinação e foco para assegurar essa condição fundamental à nossa competitividade e desenvolvimento.
(*) – Engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), é vice-presidente do Conselho de Administração do Grupo São Martinho, vice-presidente da FIESP e Membro da Academia Nacional de Agricultura.