Ricardo Cipullo (*)
Nunca imaginei viver a atmosfera presente no Brasil nos últimos meses.
Minha geração cresceu durante a ditadura, viveu a repressão e as Diretas Já, virou Fiscal do Sarney, assistiu aos pais terem as aposentadorias destruídas pela inflação, viu quebrar o Montepio da Família Militar durante a ditadura também militar. Munidos dessa bagagem, e tendo superado isso tudo, estávamos convictos que passaríamos nossa terceira idade em um país democrático e em crescimento, tal qual a capa do “The Economist”, com o Cristo Redentor decolando como um foguete no topo do Corcovado.
Infelizmente não será assim. Mais uma vez, tropeçamos nas próprias pernas. A economia mundial não vive um momento de euforia, mas tampouco vive a crise em que nossa heterodoxia arrogante nos meteu. Ao comparar os dados da economia brasileira aos da americana desde 1960, invejo o desempenho que eles tiveram. Em 54 anos, o Brasil passou por treze períodos efetivamente críticos – com variação do PIB maior do que 50% do resultado do ano anterior, já nos Estados Unidos foram apenas seis desses momentos.
Dessas treze variações malucas da nossa economia, cinco foram neste século. Em média, a cada quatro anos somos impelidos a surfar um desses tsunamis. A ditadura militar escolheu o caminho do crescimento com dívida externa, opção que destruiu nossa moeda. Instituída a democracia, lutamos pela estabilização da moeda que foi jogada fora apenas quatro anos depois, em 1998, ao se manter a âncora cambial para garantir o segundo mandato a FHC. Na sequência, o período FHC II gerou a crise cambial em 1999 e outra em 2001, a do apagão.
Os anos que se seguiram foram delineados pelas tolices do governo Lula, particularmente no segundo mandato, e Dilma, essa ruim o tempo todo. O mandato executivo de oito anos, revalidado em sua metade, se mostrou um erro, deixando claro que a reeleição não nos serve e deve acabar.
Olho para o passado com muita tristeza e sem patriotismo. O ditador que esteve à frente da república por mais tempo, Getúlio Vargas, mudou a face do país com o início da industrialização. Como legado, restaram o populismo, a CLT e o sistema de representação sindical (de empregados e empregadores). Herança esta, que se não for alterada, extinguirá as chances de um futuro próspero. Direita e Esquerda, nos anos 1970 e 2000, elegeram as empresas que venceriam e as inflaram com empréstimos subsidiados, que criaram fortunas, mas não riqueza.
Em suma, à direita ou à esquerda, nenhum presidente manteve a grandeza do foco no futuro da nação, alguns o fizeram por algum tempo, insuficiente para que imprimissem tanto as mudanças necessárias, quanto seus nomes na história. Infelizmente, seguimos buscando um herói que nos salve da mediocridade, que permita que o capitalismo realmente se instale no país.
O processo de renovação do capitalismo, descrito por Schumpeter como Destruição Criativa, pressupõe a destruição do que perde a competitividade, colocando em seu lugar algo inovador. Exatamente como no processo de evolução das espécies, demonstrado por Darwin. Lamentavelmente, nesses anos todos, assistimos à uma destruição sem evolução, nada criativa. Resta torcer para que este novo ciclo iniciado seja uma nova chance.
(*) – É engenheiro, pós-graduado em Marketing e Finanças e membro da Renaissance Executive Forums. Atua há mais de 20 anos como CEO e conselheiro empresarial.