Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)
Com o advento da finança global e o livre trânsito de capitais houve um remanejamento da produção industrial mais direcionada para a Ásia.
Embora a liberdade financeira tenha possibilitado maior concentração da riqueza, retirando sensível parcela de poder dos Estados, logo ficaram evidentes os riscos que uma indiscriminada desindustrialização poderia trazer. Atualmente, as nações mais desenvolvidas se esforçam para consolidar e recuperar a capacidade de produção a partir dos itens mais tecnológicos, em torno dos quais tecem mecanismos protecionistas.
Com mais de sete bilhões de habitantes no planeta, o que já era difícil ficou ainda mais. No Brasil, houve o descuido da produção e do consumo internos, e as contas foram deixadas ao acaso. Como pagar importações, juros, remessas, investimento? A conta não fecha. O dólar sobe. A ONU e outros institutos pouco planejaram. E se a China apertar mais ainda e baixar os preços de seus produtos, o que vai acontecer? Deflação geral?
Os desequilíbrios tornam-se insuperáveis na área financeira afetando a economia real. Os Bancos Centrais tentam resolver injetando dinheiro no sistema. No entanto, a elevada liquidez global dá ensejo a um forte movimento de aquisições e fortalece uma grande massa financeira de jogatina, criando bolhas de futuro imprevisível.
As finanças e produção globalizadas estão desencadeando o desemprego generalizado. Pelas notícias atuais, o mundo está prestes a adentrar em seu mais complicado momento econômico e ambiental. Mais uma razão para a classe política entender a realidade e agir com eficiência e se despersonalizar de seu ego diante da grande volatilidade financeira que dificulta o equilíbrio nas contas governamentais e o controle dos déficits.
Há no mundo uma cegueira geral. Falta boa vontade e planejamento para dar trabalho e remuneração através de atividades úteis e necessárias. Urge uma tomada de posição para que sejam encontradas alternativas, antes que o crescimento da insatisfação faça com que os ânimos se acirrem contra as classes em melhor situação.
É como se tivesse havido um plano de mestre para travar o Brasil e agravar problemas como o despreparo das novas gerações, saúde de baixo nível, nutrição de baixa qualidade, drogas, violência, desorganização e imprudência nas finanças públicas e nas contas internas e externas as quais dependem de financiamentos. Com o real valorizado, a indústria, mais afeita ao mercado interno, foi perdendo espaço. Com o ataque da corrupção, as empresas estatais acabaram se desvalorizando ao mínimo. Enganação e desperdícios. No país fragilizado, as únicas soluções imaginadas são aumento dos juros e dos impostos.
Nenhuma reinvenção poderá se concretizar enquanto não for reconhecida a fragilidade nas finanças; enquanto não se conseguir organizar a economia de forma a garantir um mínimo de independência e sustentabilidade nas contas internas e externas. Precisamos da criteriosa aplicação dos recursos, sem desvios da corrupção e sem cair nas obras inúteis que sorvem recursos sem resultados, enquanto há tantas coisas básicas para serem feitas.
Estamos com despesas demais para resultados de menos. Enquanto a mania de grandeza corre solta na classe política, o país entra numa rota de desespero, pois os recursos não foram geridos com a necessária prudência. O Brasil não foi capaz de se organizar em épocas menos críticas. Agora o mundo adentra na fase do salve-se quem puder e nos encontramos fragilizados, sem preparo e sem metas que envolvam toda a população na busca da melhora. Corremos o risco de retroceder aos anos 1980 quando, endividados, perdemos a chance de avançar.
De todos os lados, o que se fortalece é o pessimismo e a insensatez. Esperemos que a classe empresarial possa agora trazer de volta o bom senso, a ética e a esperança de melhor futuro.
(*) – Graduado pela FEA/USP, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.libra ry.com.br). Autor dos livros: Conversando com o homem sábio; Nola– o manuscrito que abalou o mundo; O segredo de Darwin; 2012…e depois?; e Desenvolvimento Humano ([email protected]).