Marcos Dias de Araújo (*)
Um museu custa caro: são especialistas no tema da coleção, conservacionistas e museólogos, administradores, sistema de segurança, limpeza, sistema contra incêndio e roubos, marketing.
Muitas vezes, o acervo está num prédio histórico que, de antigo, começa a ficar estragado a ponto de ameaçar a integridade do acervo. Aos custos com prédio e pessoal junta-se o custo de preservar e digitalizar o acervo, o que toma tempo e dinheiro.
Poucas empresas brasileiras querem gastar seu dinheiro com museus – e quando o fazem, é com museus específicos, com peças atrativas ao grande público.
Para a ciência, uma ossada de dinossauro e o fóssil de um ser unicelular tem igual importância, mas, para o público, somente a grande peça chama a atenção. Nem sempre o povo sabe a importância que está na pequena peça. Um documento, uma foto, uma série de insetos aparentemente sem importância podem ser estudadas no futuro graças a museus que atraem poucas pessoas, mas cientistas e especialistas.
Museus podem e devem cobrar entrada e ter lojas com materiais à venda. Ele deve se tornar fonte de propagação do conhecimento. Ocorre que a função primária dos museus é gerar conhecimento, curiosidade, ensino, pesquisa – que não têm efeito imediato e não geram, necessariamente, lucro.
O Museu do Louvre, em Paris, é gerido por dinheiro público, por pagamento de visitantes com ingressos, por arrecadação junto a empresas e com mecenas que ajudam as artes. Ele nos mostra que, a despeito das flutuações de mercado, do gosto popular, de obras mais famosas ou menos e da opinião de grupos sociais, mantém todas as peças – e o faz com a certeza de que aquele museu vai se manter aberto por sustento principal da instituição mais duradoura: o Estado.
Assumindo essa tese de que a principal função do museu não é gerar lucro, sua monetização excessiva é mais nociva que benéfica. Sem o Estado, somente as peças caras, famosas e atrativas ficarão sendo cobiçadas pela iniciativa privada, provocando o desmonte da estrutura cultural do país, restando aos acervos menores e sem atrativo desaparecerem ou serem saqueados pelos ricos para suas coleções privadas.
Se o debate for marcado pelo preconceito ideológico entre o privado e o público, ele será um debate pobre, marcado pela ideologia cega do anti-estatismo atual e pela manutenção de um Estado isolado das questões econômicas da administração contemporânea. Talvez o que o Estado precise é de uma visão ampla dos museus, com investimentos pesados na área. Tire-se a pensão das filhas dos militares solteiras, os privilégios dos juízes ou a isenção de cobranças de impostos de grandes instituições financeiras e temos amplos recursos para a cultura e arte.
O que não podemos deixar é a rapinagem dos fundos públicos para museus privados; ou a apropriação de materiais artísticos públicos por empresários que acham que os lucros devem ser seus, mas, quando os problemas aparecem, o Estado deve financiar as mudanças estruturais. Isso seria manter o patrimônio em perigo e isentar grandes empresas de impostos, selecionando onde e quando investir, de acordo com interesses que não são artísticos ou científicos.
(*) – Historiador e mestre em História pela UFPR, é professor de História da Arte e de História das Relações Internacionais da Universidade Positivo.