Paulo Baia (*)
Com o pedido de quarentena em diversos países, Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, informou que o choque econômico atual já é maior do que a crise financeira de 2008 ou a de 2001.
Falando mais especificamente do Brasil, a preocupação econômica não é diferente. Por aqui, os setores mais afetados, obviamente, são aqueles que devem parar as suas atividades, basicamente, os serviços não essenciais e o comércio não eletrônico de bens não essenciais. No estado de São Paulo seguem permitidos apenas sete tipos de serviços: saúde pública e privada, transportes públicos, abastecimento, alimentação, segurança, limpeza, bancos e lotéricas.
A indústria e a construção civil seguem autorizadas a operar, mas as empresas que têm atividades paralisadas certamente terão perdas de receitas e poderão enfrentar dificuldades de caixa para pagar empregados e fornecedores. Neste cenário, a melhor alternativa, tanto para os serviços quanto para comércio, é migrar suas atividades para a internet. Escolas, escritórios de contabilidade ou de advocacia, psicólogos e outros serviços podem buscar meios de trabalhar online. O mesmo vale para o comércio.
Para profissionais como dentistas, academias e esteticistas, por exemplo, que não tem como trabalhar pela internet, é fundamental ter acesso ao crédito bancário. Entretanto, justamente nestes momentos os bancos podem ficar em situação difícil, uma vez que, como trabalham alavancados, o aumento da inadimplência pode levar a quebras bancárias. Então é crucial a ação do Banco Central garantindo liquidez aos bancos. Como nós podemos ajudar?
Em períodos como esse, precisamos nos esforçar ao máximo para pagarmos as contas que podemos, pois a economia é um tecido integrado e, se os atores econômicos adotarem uma postura de cada um para si, ou salve-se quem puder, a recessão será muito mais profunda.
Por exemplo, se muitas pessoas atrasarem seus aluguéis, suas contas, pararem de pagar escolas, academias ou empregados domésticos, estaremos gerando uma cadeia de destruição de renda que vai aprofundar muito a recessão e tornar a recuperação muito mais difícil.
Por isso, quem já fez no passado uma poupança para os dias difíceis, deve seguir consumindo normalmente, pois ajudará na recuperação da economia; quem não tem poupança, mas tem renda, deve cortar um pouco os seus gastos para fazer uma poupança, já que ninguém sabe ainda até onde vai a crise.
Por fim, quem tem dívidas deve cortar todos os gastos supérfluos para pagar rapidamente suas dívidas e iniciar uma poupança. Dessa maneira, todos juntos e informados, será mais fácil superar esse período.
(*) – É professor de Economia do Centro Universitário FEI.