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Como a centralização nos grandes bancos virou o grande vilão do mercado financeiro

em Artigos
segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Eduardo Zucareli (*)

A centralização do poder nos grandes bancos e na indústria do cartão de crédito parece, por fora, uma boa solução para o consumidor. Porém, historicamente, o que tem acontecido é justamente o contrário: clientes pressionados com opções de parcelamento com juros altíssimos e baixa acessibilidade – altas taxas de exclusão na aprovação de emissão de cartão de crédito. Por exemplo, trinta e oito por cento da população brasileira não tem acesso ao cartão de crédito. Essa falta de opções, por muitos anos, abriu espaço para que os incumbentes se sentissem confortáveis em cobrar até 411% a.a. de juros no rotativo.

Recentemente, o Bacen abriu a discussão sobre uma mudança no parcelamento de compras sem juros, o que gerou uma discussão que incluiu (e impacta) atores como varejistas, bancos, fintechs. O tema central dessa conversa promovida pelo Bacen não é ter ou não parcelamento sem juros, mas sim como fomentar o surgimento e desenvolvimento de iniciativas que garantam condições melhores e mais justas tanto para consumidores quanto para varejistas.

Primeiramente, é importante desenhar um pano de fundo e levar em consideração que a forma com que o parcelamento foi criado e é feito até hoje tem consequências que trazem juros altos e excluem uma parte da população. Há, atualmente, um emaranhado complexo de interesses conflitantes entre (1) consumidor, (2) emissor do cartão de crédito, (3) credenciador e (4) varejista.

O consumidor quer acesso ao crédito. O emissor do cartão quer lucrar com o crédito, no menor risco possível, e o credenciador quer remuneração pela utilização de sua estrutura. O varejista, que, antes da indústria do cartão de crédito, assumia todo o risco, trocou isso pela certeza do recebimento em troca do pagamento de uma taxa. Com o cenário econômico desfavorável, o consumidor não tem hoje muita escolha, a não ser concordar com os indecentes juros do rotativo (quando o cliente não paga sua fatura em dia), ou então, parcelar suas compras com juros. Por outro lado, se o varejo não oferece o parcelamento, vende menos. Tudo isso se torna uma bola de neve.

O que o mercado precisa é de empresas que desafiam esse status quo, que não concordam com juros estratosféricos e que acreditam que o parcelamento é vital para o varejo e para a população brasileira, mas que precisa ser aplicado de forma democrática. Esse tipo de aplicação – que apoia aplicações de novos modelos de pagamento capazes de melhorar as condições para os consumidores e varejistas – funciona porque não visa apenas ao lucro, mas pensa no mercado e na estrutura do varejo e em como ele precisa evoluir para que todas as partes envolvidas na jornada de compra sejam supridas – tanto o consumidor, quanto o varejista. A questão não é acabar com uma forma de pagamentos, mas entender como evoluí-la.

É importante pontuar que proibir o parcelamento sem juros seria também punir o bom pagador, reduzindo assim o acesso de milhares de brasileiros que não podem realizar compras à vista – de acordo com o Banco Central, 40% das vendas do varejo são feitas no cartão de crédito e 79% das compras no cartão são parceladas. O que deveria ser colocado em discussão não é se deveria ter ou não um parcelamento sem juros, mas, sim, a importância de não aplicar juros abusivos por parte dos operadores. A agenda evolutiva do Pix pode ser apontada como solução desse emaranhado complexo.

O lançamento do Pix Automático, previsto para abril de 2024, e o início do debate organizado a respeito da concessão de crédito via Pix, são cruciais para essa evolução e democratização do poder de compra. Há uma tendência mundial de BNPL, que também está crescendo bastante no Brasil através do Pix Parcelado liderado por fintechs. Sem dúvida alguma, é a solução mais justa para o consumidor, mais segura para o lojista e mais eficiente para o mercado. Dessa forma, tanto o varejista quanto o consumidor conseguem ter acesso a uma forma eficiente e equilibrada de parcelamento, sem o efeito indesejado do superendividamento dos consumidores.

É possível repensar as coisas, manter modalidades de parcelamento sem juros e democratizar o acesso ao parcelamento e pagamentos, possibilitando que o consumidor mantenha seu poder de compra sem entrar em uma bola de neve.

(*) CCO da Pagaleve, fintech que oferece o meio de pagamento do Pix Parcelado em 4x sem juros por meio de uma plataforma altamente tecnológica, que possibilita que consumidores consigam parcelar suas compras sem depender de cartões de crédito e se preocupar com juros.