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Com Trump triunfa a intolerância

em Artigos
quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Reinaldo Dias (*)

A vitória do polêmico Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos traz temor mundial pelas possíveis consequências econômicas, sociais e ambientais que possam resultar das promessas populistas do candidato republicano.

Trump venceu no bojo de uma onda de indignação com o sistema e daqueles que canalizaram sua insatisfação no candidato que mais se identificava com sua visão de mundo. Com Trump triunfou o politicamente incorreto, o sentimento primitivo, o rancor e a intolerância contra os imigrantes. Venceu o medo ao novo, ao diferente, aos outros que ameaçam seu modo de vida.

Com o resultado da eleição norte-americana saíram perdedores os seguidores da religião muçulmana, as minorias, os imigrantes, os refugiados, os ambientalistas e todos aqueles que buscam a justiça social e o fim de qualquer tipo de intolerância e discriminação. Saem vencedores os xenófobos, os racistas, os intolerantes e os disseminadores do medo contra a globalização, a diversidade e ao diferente. A extrema direita europeia comemorou a vitória de Trump; sua ideologia se identifica com o fascismo mais abjeto e merecedor da repugnância da humanidade, mas, no entanto, saem fortalecidos.

O que acontecerá quando Trump não conseguir concretizar suas promessas de volta a um passado glorioso, de bonança e de muitos empregos na indústria, cenário ideal imaginado pelos seus eleitores? O emprego industrial prometido por Trump não voltará. As indústrias que retornam aos Estados Unidos fazem uso intensivo de novas tecnologias, empregam pouca mão-de-obra. O desemprego na indústria é estrutural e deve-se à tecnologia e ao processo de globalização que aumenta a competição entre as empresas, o que as força a estarem melhor equipadas tecnologicamente. Não há volta ao passado.

Expulsar imigrantes, barrar a entrada de refugiados não vai melhorar a economia, não trará de volta os empregos prometidos por Trump. O discurso do ódio provocará deportações, multiplicará as barreiras que impedirão o ingresso de imigrantes. Mas a promessa de prosperidade, tal como prometeu o vitorioso Trump, não se cumprirá. A quem o eleito culpará então? O futuro não oferecer respostas agradáveis, pois certamente o inimigo será externo.

É importante notar que dentre a série de medidas controversas que o eleito presidente norte-americano prometeu implantar há várias que impactam diretamente em recentes avanços econômicos, sociais e ambientais de caráter global. Em termos econômicos levará adiante uma política protecionista, contrariando todo movimento global de liberalização dos mercados e formação de blocos econômicos.

As medidas anunciadas por Trump colidem frontalmente com o movimento global de amparo aos refugiados e o estabelecimento de quotas para recebimentos destes. Promete barrar os imigrantes latinos, construindo muro na fronteira mexicana e bloquear a entrada de praticantes do islamismo, a quem considera como prováveis terroristas. Do ponto de vista social a futura política de Trump é catastrófica.

A luta contra o aquecimento global deve perder o apoio dos Estados Unidos, pois o eleito já anunciou que reverá todos os acordos assinados, os quais considera que prejudicam a economia norte-americana. A exploração do petróleo utilizando o mecanismo do Fracking deverá ser ampliado, mesmo contrariando todos os estudos que o condenam, pois é um elemento fundamental para manter a autonomia norte-americana diante dos países árabes e outros produtores globais.

A paz mundial regredirá, pois a atenção de Trump estará voltada para o fortalecimento militar norte-americano, com maior presença global. Sua provável aliança com Putin deverá favorecer intervenções militares em áreas de conflito onde os dois países tenham interesses, começando pelo Oriente Médio.

A expectativa não é boa, mas as instituições norte-americanas que são sólidas poderão conter o ímpeto reacionário do candidato eleito. Só temos que torcer para que isto aconteça, pois a alternativa é assustadora.

(*) – É professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Campinas. Doutor em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela Unicamp. É especialista em Ciências Ambientais.