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Chile: arde Santiago?

em Artigos
terça-feira, 12 de novembro de 2019

Rene Berardi (*)

Quem podia imaginar que o modelo chileno, exemplo para muitos países no mundo, era um vulcão em ebulição, mas ninguém esperava que explodisse.

Se dizia que este modelo democrático não apresentava fissuras, pois a estrutura econômica era quase perfeita. Esta perfeição era ‘’para inglês ver”, preparada para não mostrar defeito nenhum, pelo contrário, era o paraíso dos empreendedores e imigrantes latinos.
Mas o vulcão explodiu, o que não parecia estranho para um país acostumado aos ‘’tremores sismológicos’’ diários.

Mas a lava do vulcão não aguentou mais ficar submersa dentro dele, esperou uma pequena fissura, 30 pesos, e começou a sair pela boca. Onde estava a falha deste perfeito modelo? Podemos identificar alguns fatores que existiam, mas não eram considerados pelo comando político institucional:

  1. Empobrecimento massivo da classe média e baixa (90%) pelo excessivo encarecimento das tarifas públicas, pedágios, remédios e educação;
  2. Não sanção para os casos de corrupção contínuos dos empresários e políticos, ou seja, a falta de uma “lava jato’’. As sanções para os culpados eram assistir a um curso de ética;
  3. Centralização excessiva do Estado sobre as regiões, onde para mudar o trânsito de uma rua deveria ser aprovada pelo ministério dos transportes;
  4. Incapacidade de solucionar o conflito com os povos indígenas (mapuches);
  5. Incapacidade de controle do tráfico de drogas que domina amplos bairros de Santiago;
  6. Endividamento “de por vida” dos estudantes ao terminar seus estudos universitários, enfrentando um mercado competitivo e de baixos salários;
  7. A previdência ‘’privada’’ está gerando uma massa de chilenos que beiram a extrema pobreza, faz o alto valor dos remédios (os mais altos da América Latina);
  8. O voto não obrigatório tem gerado uma classe política insensível às demandas sociais da população, mas muito sensível à corrupção e aos altos salários: o salário integral do senador é US$ 40 mil e o salário mínimo US$ 500.

Todas essas razões e mais outras não podiam manter um modelo ‘’perfeito’’ como se falava, pois macroeconomicamente apresentava indicadores de primeiro mundo, mas microeconomicamente mostra padrões de terceiro mundo.

Deve-se mudar a estrutura macro institucional e econômica, onde não pode seguir existindo que 5 famílias controlam 90% do PIB e o resto “se vira’’ diariamente no metrô. As mudanças chegaram para ficar, onde os atores desta mudança não estão no Palácio de La Moneda e, muito menos, no congresso e nos grupos econômicos.

Eles estão na rua ou viajando de metrô, onde todos são iguais.

(*) – É doutor em sociologia e atua como professor do ISAE Escola de Negócios (www.isaebrasil.com.br).