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Burnout ronda auditorias

em Artigos
sexta-feira, 26 de julho de 2019

Rossana Guerra de Sousa (*)

A missão da auditoria interna empolga.

Aumentar e proteger o valor organizacional através do trabalho realizado de forma objetiva, independente, disciplinada, analisando a governança corporativa, a gestão de riscos e os controles internos. Essa atuação, no entanto, é afetada pelas condições gerais do ambiente de negócios. Entre os ingredientes nessa panela de pressão destacam-se aspectos como: a volatilidade e complexidade das organizações, exigências de agilidade, constante tomada de decisões, tensão ética e ambiguidade de papéis.

Além disso, há ainda, no campo pessoal, o acúmulo de tarefas, o perfeccionismo e o foco excessivo no trabalho. Esse conjunto de circunstâncias podem levar o auditor interno a um nível de esgotamento físico e mental extremo, como se o corpo e mente clamassem por uma parada. Antes determinado e motivado, pode passar a agir de modo automático; onde havia estímulo, boas ideias e comprometimento, surgem irritação, desânimo e sensação de fracasso. Isso é burnout.

O termo repercutiu quando sua definição foi detalhada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”. Aponta como elementos caracterizadores a sensação de esgotamento, cinismo ou sentimentos negativos relacionados a seu trabalho. Descrições que soam familiares na rotina de auditores.

Quantos casos de desencantamento e desmotivação com a profissão já presenciamos ou ouvimos em reuniões com amigos auditores ou grupos de discussão? O burnout na literatura acadêmica, traz como causas principais a exaustão emocional, com destaque para àquelas advindas do excessivo turnover e da tensão ética. Ela relata como consequências o aumento dos custos do trabalho – devido a erros ou baixa produtividade – a queda da qualidade dos julgamentos profissionais, além de problemas de convivência.

O debate sobre o tema é acompanhado pelo The Institute of Internal Auditors (IIA Global), maior organização da profissão no mundo. A Instituição trata o tópico com destaque para aspectos como a necessária manutenção da motivação, mesmo ao receber a designação para tarefas repetitivas, pressões por prazos ou rotina desanimadora. O burnout se instala em fases e é preciso estar atento para não permitir que o processo se estenda a um extremo.

É necessário que o executivo chefe da auditoria e os membros de sua equipe, reconheçam os elementos caracterizadores do burnout para poderem apoiar os colegas ainda no estágio inicial do problema. Entre os sinais que podem identificar um quadro da síndrome estão: exaustão, fraqueza, dores musculares, distúrbios do sono, busca pela solidão, irritabilidade, raciocínio lento, baixa autoestima, além de extremos entre horas de excitação e de melancolia.

O IIA Global sugere uma série de cinco passos para extinguir o burnout no exercício da auditoria: reconhecer que o fato está acontecendo; retire-se algum tempo do trabalho, faça programas diferentes com a família e amigos; analise as lacunas de competência de seu trabalho; monte uma estratégia para a carreira e seja corajoso para lidar com situações adversas.

Adicionalmente, é necessário estimular a convivência com outros profissionais de auditoria em networking profissional, como em seminários, debates e congressos promovidos pelo Instituto dos Auditores Internos do Brasil ou por outras entidades. A troca de experiências ou os novos ‘ares’ proporcionados são fontes renovadoras e podem contribuir para revigorar a carreira e manter a energia e o entusiasmo necessários para a plena realização da missão da auditoria, além de ser excelente ambiente de atualização e encontro com amigos.

(*) – É auditora governamental, doutora em ciências contábeis, conselheira do Instituto dos Auditores Internos do Brasil e ainda atua no Tribunal de Justiça da Paraíba e na Universidade Federal do mesmo Estado ([email protected]).