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Banking as a Service no Brasil: o futuro digital dos serviços financeiros

em Artigos
sexta-feira, 04 de abril de 2025

Rogério Gomes (*)

O mercado de Banking as a Service (BaaS) no Brasil está em plena ascensão, com projeções apontando que o setor deve ultrapassar US$5 bilhões até 2031. Esse crescimento, que representa um aumento de mais de 12 vezes em relação aos milhões movimentados em 2022, revela a rápida transformação digital pela qual o país está passando. Um estudo, conduzido pelo instituto Intellectual Market Insights Research (IMIR), reforça o papel cada vez mais relevante que o BaaS vem desempenhando na modernização dos serviços financeiros e na ampliação do acesso da população a soluções bancárias mais ágeis e personalizadas.

O avanço desse mercado não é uma surpresa, considerando o contexto em que o setor financeiro brasileiro tem operado nos últimos anos. A crescente digitalização da economia, combinada com a ampla penetração de smartphones e o fortalecimento da infraestrutura de internet, criou o ambiente perfeito para que soluções bancárias digitais prosperassem. Ademais, as mudanças regulatórias promovidas pelo Banco Central, como o lançamento do sistema de pagamentos instantâneos Pix e a implementação do Open Banking, têm sido peças-chave para incentivar a inovação e a competição no mercado.

O comportamento do consumidor também tem sido um fator determinante para o crescimento do BaaS. Isso porque as pessoas estão cada vez mais exigentes em relação à agilidade e personalização dos serviços financeiros. O modelo permite que empresas não bancárias ofereçam produtos financeiros sob medida, sem a necessidade de obter uma licença bancária completa, o que torna o processo mais eficiente e acessível, atraindo o interesse de empresas de tecnologia, varejo e até mesmo de telecomunicações, que agora conseguem integrar serviços financeiros em suas plataformas com facilidade, aumentando o engajamento e a fidelização dos clientes.

No entanto, o que realmente impressiona nesse cenário é a velocidade com que o mercado está se reorganizando. A projeção de que o mercado de BaaS na América Latina deve atingir US$19,4 bilhões em 2031, partindo de US$1,62 bilhão em 2022, o que reforça que essa é uma tendência estrutural e não apenas um movimento pontual.

Curiosamente, o estudo sugere que haverá uma mudança significativa na composição dos players que dominam esse mercado. Atualmente, bancos tradicionais representam 31% do mercado de BaaS na América Latina, seguidos por companhias financeiras não bancárias, empresas governamentais e fintechs. Até 2031, espera-se que as fintechs aumentem sua participação para 17%, enquanto os bancos tradicionais devem perder espaço, caindo para 29%. Em termos absolutos, as fintechs devem movimentar cerca de US$14,8 bilhões, enquanto os bancos tradicionais ainda manterão a maior fatia, com US$25,7 bilhões.

Outro ponto de transformação diz respeito à infraestrutura tecnológica utilizada no setor. Embora a computação em nuvem tenha sido um fator-chave para a expansão inicial do BaaS, o futuro aponta para uma maior dependência das APIs (Interfaces de Programação de Aplicações). A transição é um sinal claro de que o mercado está migrando para um modelo mais integrado e flexível, no qual os serviços financeiros poderão ser facilmente incorporados a plataformas digitais por meio de interfaces simples e seguras.

É interessante observar que, apesar do otimismo com o crescimento do BaaS, o setor enfrenta desafios consideráveis, principalmente no campo regulatório. A velocidade com que o mercado evolui cria um cenário em que os reguladores precisam equilibrar o incentivo à inovação com a necessidade de garantir a segurança e a estabilidade do sistema financeiro. O Banco Central tem mostrado competência em lidar com essa tarefa, mas o ritmo acelerado de transformação certamente exigirá ajustes constantes nas regras e mecanismos de supervisão.

Por fim, podemos afirmar que o mercado de BaaS no Brasil está em um ponto de inflexão. O crescimento exponencial previsto para os próximos anos sugere que o setor financeiro nacional continuará a ser um dos mais dinâmicos e inovadores do mundo. A capacidade de combinar agilidade, personalização e segurança coloca o Brasil em posição de liderança na oferta de serviços financeiros digitais. Por isso, mais do que um movimento passageiro, o BaaS representa uma mudança estrutural na forma como os serviços bancários são concebidos, distribuídos e consumidos. Afinal, o futuro do setor financeiro já está sendo desenhado — e ele é digital.

(*) Superintendente da AutoBanking, plataforma inovadora de crédito como serviço (CaaS), focada em oferecer soluções financeiras personalizadas para concessionárias de veículos.