Alessandra Pinatti Kinjo (*)
O processo de avaliação psicossocial permite identificar características psicológicas necessárias para que um indivíduo desempenhe suas atividades de maneira segura.
Este processo de avaliação tem o objetivo de responder questões: o indivíduo dispõe das características psicológicas exigidas para exercer o cargo de risco?
Existem no mercado vários instrumentos que podem ser utilizados para mensurar essas características psicológicas, como testes psicológicos para avaliação da cognição; testes de personalidade que podem fazer um prognóstico do comportamento desse colaborador em situações de maior pressão e inventários para ansiedade, depressão, estresse, resiliência, entre outros.
Como está o contexto organizacional em relação aos fatores de riscos psicossociais? – A Organização Internacional do Trabalho (OIT) descreve como os aspectos para definir a interação dinâmica entre o trabalhador e seu trabalho. De um lado, o trabalhador com suas experiências, vivências e necessidades, do outro, os aspectos relacionados ao trabalho – ambiente, conteúdo e tarefas.
Essa interação pode ser positiva quando oferece suporte, proteção e promoção de saúde aos trabalhadores, e negativa quando pode ser ameaçador, perigoso e de riscos para o trabalhador, nesse caso são chamados de fatores de riscos psicossociais. Quando nessa situação o desequilíbrio prevalece e o trabalhador não detém condições internas para lidar com esses fatores, podem gerar distúrbios emocionais, comportamentais e problemas à saúde.
Alguns dos sintomas relacionados à exposição dos fatores de riscos psicossociais estão relacionados à ansiedade, depressão, problemas do sono, isolamento, abuso de substâncias psicoativas, agressividade, inibição da capacidade de concentração e tomada de decisão. Além das consequências à saúde, pode ser percebido danos físicos, sociais e psicológicos. Existem condições de trabalho que podem aumentar a ocorrência dos riscos psicossociais.
Tais como: cargas de trabalho excessivas; falta de clareza na definição das funções; falta de participação na tomada de decisões que afetam o trabalhador e falta de controle sobre a forma como executa o trabalho; má gestão de mudanças organizacionais e insegurança laboral; comunicação ineficaz; falta de apoio de chefias e colegas, relações interpessoais difíceis; existência de assédio agressão e violência e dificuldade em conciliar o trabalho e a família. Os fatores de riscos psicossociais podem deixar o trabalhador em situação de maior vulnerabilidade e colocá-los em risco de adoecimento.
De acordo com os dados do INSS, os transtornos mentais são a terceira principal causa de concessão de benefícios previdenciários para trabalhadores com registro formal. De um modo geral esses transtornos decorrem dos fatores de riscos psicossociais, com base nos dados da Previdência Social, observou-se que em 80% dos afastamentos de trabalhadores por problemas de saúde mental foi estabelecido nexo de causalidade associado aos diagnósticos de depressão, ansiedade e transtornos de estresse.
A expansão da Avaliação Psicossocial para outras atividades seria muito importante para buscar ações preventivas e promoção da saúde do colaborador, trazendo vários benefícios para as organizações, tais como: diminuição do absenteísmo e de afastamento, aumento da produtividade, criatividade, desempenho e qualidade e no trabalho desenvolvido, retenção de talentos entre outros.
Por fim, é importante que os profissionais de RH, gestores e psicólogos pensem sobre o quanto essa pandemia pode ter ou estar influenciando a saúde dos colaboradores e como os mesmos estão vivenciando todas essas mudanças impostas nesse período.
Surge então a necessidade de pensarmos numa Avaliação Psicossocial que contemple medidas de diagnóstico, rastreamento e monitoramento da saúde mental desse colaborador, para elaboração de plano de ação e de apoio às pessoas para a construção de saúde e segurança.
(*) – Mestre em Psicologia pela USP, é consultora comercial da Vetor Editora.