Marcelo Souza (*)
Desde 2007, quando Steve Jobs apresentou ao mundo o primeiro smartphone da maneira que conhecemos hoje, estamos passando por intensa transformação.
Essa mudança foi muito bem compreendida e traduzida pelo professor Klaus Schwab, em 2010, durante um evento do Fórum Econômico Mundial, quando nos presenteou com a terminologia indústria 4.0 e sua variante literária, a quarta revolução industrial. Desde então, iniciou-se uma verdadeira corrida pela digitalização de praticamente tudo, um verdadeiro tsunami de inovação.
As plataformas derrubaram barreiras e deram início à era das organizações exponenciais, empresas que com pouco capital escalonaram de forma incrível.
Elas mudaram a forma como compramos, nos movimentamos, nos comunicamos, registramos nossas lembranças, nos relacionamos socialmente e intimamente, nos atualizamos, aprendemos, ou seja, faltariam linhas para descrever tudo que essa última década nos apresentou, hoje, praticamente tudo que precisamos está a um clique de distância e na palma das nossas mãos.
Estamos tão imersos nesse “novo mundo”, que estudos recentes mostram que rolamos as telas de nossos celulares cerca de 80 metros por dia. Plataformas como Facebook, Instagram, LinkedIn, Netflix, Amazon, Uber, iFood, Bancos, WhatsApp, são apenas alguns exemplos de ferramentas e empresas presentes diariamente na rotina de grande parte da população brasileira, ninguém mais se lembra como era a vida antes da criação dos aplicativos. É praticamente inimaginável como vivíamos antes de 2007.
Em meio à toda essa transformação, em 2020 o mundo foi assolado pela Covid-19, que como efeito colateral à crise sanitária agiu como um forte catalisador dessa transformação. As plataformas nos proporcionaram muitas coisas, contudo, uma das grandes vantagens é a mobilidade, os smartphones nos permitiram estarmos sempre conectados. Plataformas como o Zoom, Google Meet, Skype, Whereby entre outras, tiveram recordes de downloads. De forma natural toda transformação acontece em camadas, geralmente sendo: tecnologia, pessoas, negócios, educação e, por último, os governos.
Existe um ciclo para que uma transformação atinja todas essas camadas, no entanto, esse ciclo foi muito reduzido com a Covid-19. Com toda essa mudança, mobilidade e conexão, como ficará o futuro do trabalho? É impossível prever, mas a partir de observações de dados é possível traçar linhas de tendências com grande probabilidade de acertos. Inicialmente, estávamos muito habituados com o sistema face-to-face office, tínhamos nossa rotina diária bem definida, por mais incrível que se possa parecer nos dias de hoje, vivemos uma época em que a quantidade de horas que uma pessoa passava no escritório era sinônimo de comprometimento e profissionalismo.
Com a pandemia, fomos forçados a adotar o modelo do home office e, para alguns, foi muito doloroso a princípio, com essa nova modalidade presente no dia a dia, muitas dúvidas foram surgindo. Qual plataforma utilizar? Como será a relação trabalhista? Como será contabilizada a carga horária? Apesar de tantas novas variáveis, é cabível ressaltar a capacidade natural do ser humano em se adaptar, isso sem dúvida nos trouxe até aqui e continuará nos impulsionando para novos patamares da vida e relações humanas. Munidos de mais clareza e de posse de dados sólidos, vimos que já houve uma grande mudança de mindset.
A Consultoria Global KPMG divulgou resultados de sua pesquisa que aponta que 16,20% das empresas pretendem voltar com todos os colaboradores para o face-to-face office; 16,07% voltarão com no máximo 15%; 30,33% voltarão com no máximo 30%; 27,01% voltarão com no máximo 50%; e apenas 10,39% com mais de 50% dos colaboradores diariamente. A Consultoria Cushman & Wakefield divulgou que 73,8% das empresas pretendem institucionalizar a prática do home office. Mark Zuckerberg, fundador e CEO do Facebook, planeja que 50% de seus colaboradores trabalhem remotamente a médio prazo.
Agora podemos dizer que estamos caminhando para uma terceira geração de modelo de trabalho, a anywhere office, após a percepção de que não é necessário horas de deslocamentos diários ou longas viagens para reuniões com clientes e fornecedores, além da iminência da tecnologia 5G, que promete mais velocidade de conexão e óculos de realidade virtual, como o recém lançado pelo Facebook, a flexibilidade no trabalho ficará ainda mais presente em nossos dias. Segundo a consultoria IDC, 37% da população economicamente ativa do mundo será identificada como força de trabalho móvel.
Com a mudança do home office, a fuga das aglomerações e a tendência do anywhere office, já se observa o esvaziamento dos grandes centros, aliviando o tráfego e reduzindo fortemente a grande poluição costumeira nessas regiões. Hoje é possível ter um colega de trabalho habitando em outra cidade, estado ou até país, não é anormal pessoas que encontraram no trabalho remoto juntamente com plataformas como o Airbnb a possibilidade de conhecer muitos outros locais, até mesmo habitando por períodos em outras cidades, por exemplo.
Falar sobre o futuro do trabalho é ter a ciência que o vetor resultante entre a quarta revolução industrial e o isolamento imposto pela pandemia deu liberdade para vivermos a era do anywhere office.
(*) – É CEO da Indústria Fox, pioneira em indústrias de reciclagem, refurbished de eletrônicos e plataformas digitais da economia circular.