Isaac Ivanoff (*)
Começar um negócio requer planejamento, mas também paciência para colher os frutos do projeto. Após o investimento inicial, o tempo de Return on Investment (ROI) pode demorar meses e até anos, dependendo de quanto foi investido, do setor de atuação e do sucesso do empreendimento. Em meio a uma sociedade cada vez mais dinâmica e digital, a tendência cada vez mais assertiva, especialmente entre startups, é buscar novos investidores a fim de sustentar o negócio até que a companhia alcance o lucro, acelerando os resultados e diluindo o risco.
Além disso, outros objetivos importantes das startups ao procurarem canais para captar recursos financeiros são: validação do modelo de negócio, definição do product market fit, crescimento da empresa e ganho de escala. Entre os diferentes tipos de investimentos possíveis, existem aqueles que oferecem apenas os recursos financeiros, enquanto outros entram também com expertise para ajudar a conduzir o negócio de forma técnica, rumo ao crescimento.
O problema é que, nos últimos meses, o cenário macroeconômico mundial, que enfrenta a elevação global de juros, aumento da inflação e conflitos internacionais, vem gerando uma onda de recesso entre as startups. Com a alta dos riscos e a consequente queda de investimentos, uma das maneiras encontradas pelas companhias para equilibrar as contas é a dispensa coletiva de colaboradores. Em 2022, nomes como Ebanx, Loft e QuintoAndar demitiram funcionários em massa. Muitas delas por meio de reuniões on-line, de última hora e com microfones bloqueados.
O novo levantamento da consultoria Distrito mostra que o volume total de aportes em startups brasileiras caiu 54,6% em 2022, de US$ 9,76 bilhões para US$ 4,45 bilhões. Embora tenha sido o segundo melhor ano para o mercado de inovação, as recentes demissões no ecossistema brasileiro indicam que 2023 terá diversos desafios. Nas primeiras semanas do ano, a insurtech Pier demitiu 39% (aproximadamente 111 pessoas) da equipe e a unicórnio Frete.com cortou 15% (cerca de 150 pessoas) do seu quadro de colaboradores.
Em um cenário desafiador, as startups precisam se basear em estratégias seguras para atrair o melhor perfil de investimento e no melhor momento – sem correr ou oferecer riscos de instabilidade séria.
Para isso, além da ideia inovadora, as organizações primeiramente precisam ter total domínio do projeto, entendendo exatamente qual é a demanda do mercado que visam atingir e como atender aos gargalos. Nesse sentido, as propostas precisam surgir de dores reais do segmento trabalhado, por meio de ideias robustas baseadas em expertise e em um plano de negócio em longo prazo.
Outra peça-chave no processo de captação de recursos é saber se destacar e impressionar os investidores durante o pitch deck (momento em que o empreendedor apresenta e vende seu projeto). A apresentação deve ser resumida e concisa, com comunicação assertiva, bom roteiro, design agradável e muita criatividade.
O controle responsável das finanças é outro ponto estratégico nessa jornada. Além de um projeto bem estruturado e de boa apresentação, a empresa precisa contar com gestão financeira e contábil organizadas, fazer projeções e estar preparada para o due diligence (processo que envolve o estudo, a análise e a avaliação detalhada de informações de uma determinada sociedade empresária).
Apesar das mudanças no mercado de startups após o boom de alguns anos atrás, 2023 começou com características que podem parecer desanimadoras, mas na realidade vão ao encontro da maturidade do setor. Isso significa que vai haver uma boa “seleção natural” tanto entre investidores quanto entre startups.
Agora não há mais espaço para apostadores curiosos e que agem sem muitos parâmetros. Esse perfil de investidor aleatório vem dando espaço para negócios mais estruturados e que correspondem à evolução da própria tecnologia e aos avanços das propostas de startups nos mais diversos segmentos. É o ano da consolidação.
(*) É Diretor de Fundraising da FCJ – [email protected]