Mauricio Godinho (*)
A sociedade está atravessando um período intenso de complexas transformações.
Por um lado, os avanços tecnológicos se tornaram exponenciais. Por outro, o mundo enfrenta uma grave pandemia. Cenários assim geram dificuldades, mas também quebram paradigmas e estimulam inovações. No mercado de Alimentos e Bebidas há mudanças relevantes também.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (Abia) revelam que o faturamento do setor cresceu 12,8% em 2020 em relação a 2019, atingindo
R$ 789,2 bilhões e fazendo o setor representar mais de 10% do PIB nacional. Além disso, há mudanças nas demandas da sociedade e nos hábitos de consumo, com duas vertentes principais no mercado atualmente.
Cadeia de suprimentos transparente e ética: o consumidor passou a exigir e priorizar marcas com propósito claro e cadeias de suprimentos com estas características. Empresas próximas de fornecedores e parceiros de negócios, que investem em relações sustentáveis em todos os elos da cadeia, são mais reconhecidas.
Estas marcas se preocupam com seleção, monitoramento e planejamento de ações preditivas, preventivas e corretivas para barrar mão de obra escrava, proteger o meio ambiente e promover a sustentabilidade. O consumidor da “nova realidade” sente a necessidade de orientar escolhas para marcas responsáveis com propósito. Há uma preocupação crescente com o meio ambiente e as sociedades em que elas operam.
Inovação: o setor de alimentos e bebidas está evoluindo muito em saúde e bem-estar. A pandemia fez os consumidores buscarem marcas que promovam bem-estar físico, mental e emocional. Alimentos que usam vegetais em vez de compostos animais ganham mais importância e destaque.
Há casos de empresas que já usam Inteligência Artificial em Pesquisa e Desenvolvimento simulando ingredientes naturais (plantas) em formulações testadas por chefs. Elas são capazes de simular alimentos tradicionais sem qualquer fonte animal. Já é possível produzir alimentos combinando plantas que simulam os mesmos sentidos (olfato, paladar e textura) de alimentos convencionais.
Este processo inovador já está sendo usado por algumas empresas. São produtos modernos, ecologicamente sustentáveis e com apelo de marca poderoso. Não somente por minimizarem ou zerarem impactos na fauna, mas por usarem ingredientes vegetais locais combinando plantas diversas e não necessariamente monoculturas de alimentos tradicionais.
Esses alimentos inovadores promovem benefícios funcionais e saúde aos consumidores, quando comparados aos alimentos de fonte animal. Resumindo, o consumidor da “nova realidade” perguntará cada vez mais: “Esta marca, ou produto, faz bem para mim e faz bem para o planeta?”.
Há um futuro amplo de possibilidades, impulsionado por consumidores conscientes e conectados. Empresas de alimentos e bebidas que investirem em cadeias de suprimentos éticas e transparentes e adotarem práticas de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento com produtos saudáveis, ecologicamente corretos e ingredientes sustentáveis, estarão à frente das demais nesta nova realidade.
(*) – É sócio-diretor líder de Alimentos de Bebidas da KPMG no Brasil.