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A procrastinação pode impactar a sua vida de forma positiva

em Artigos
sexta-feira, 08 de outubro de 2021

Renato Grinberg (*)

Nossas primeiras ideias são normalmente as mais convencionais.

Para muitos profissionais o momento em que você tem que procrastinar em alguma atividade é um motivo de frustração, de contestação da própria capacidade para realizar seu trabalho ou até mesmo de resolver uma questão pessoal. O próprio significado da palavra soa como algo negativo.

No entanto, o que parece ruim, em um primeiro instante, pode ser algo realmente recompensador em um futuro próximo. Isso significa transformar esse adiamento de tarefas em alternativas mais criativas. Nos apeguemos a um exemplo de como a procrastinação pode ser positiva em alguns aspectos. Digamos que um diretor-geral de uma empresa de componentes eletrônicos foi avisado por um dos engenheiros de sua equipe sobre a falta de uma matéria-prima para finalizar certo produto.

Assim que começaram a listar todas as opções de como resolver o problema, o diretor solicitou que o funcionário adicionasse um item à lista: “não fazer nada”. Ele trabalhava com uma hipótese, pois tinha uma lembrança de que as vendas daquele produto estavam em declínio havia um tempo e, portanto, queria confirmar qual era o nível de procura atual por aquele produto.

Os números vieram, mas não era possível dizer se o patamar de vendas estava baixo. Porém, ainda existia estoque suficiente para alguns meses. Portanto, a decisão final que o diretor tomou foi não fazer nada por enquanto. Ele acompanharia a curva de vendas por mais uns dois meses e, conforme fosse a tendência, voltariam a avaliar como resolver o problema.

Nesse caso, o diretor foi proativo e criativo quando decidiu não fazer nada; porém, seguindo o senso comum, a maioria das pessoas pensaria que ele, por não ter feito nada, não foi proativo. Já o professor da Universidade da Pensilvânia, Adam Grant, defende que nossas primeiras ideias são normalmente as mais convencionais e, se esperarmos que “descansem”, conseguiremos criar outras muito mais originais.

Ele, que originalmente acreditava em terminar todas as suas tarefas o mais rápido possível, inspirou-se na tese de dissertação de uma de suas estudantes, Jihae Shin. Em seu estudo, Shin, pesquisou funcionários de empresas em relação ao nível de procrastinação e o nível de criatividade. Ela concluiu que os empregados procrastinadores eram frequentemente os mais criativos.

Para “atiçar” o seu senso criativo, tenha em mente buscar 20 soluções para um problema existente. Essa técnica está presente em meu livro “A estratégia do olho de tigre”. Se você treinar esse exercício, notará que as primeiras ideias vêm com certa facilidade, mas para chegar em 20, é necessário não somente mais esforço, mas também mais tempo. Esse treinamento nos provoca a pensar em ideias que podem parecer, a princípio, malucas para conseguirmos chegar nas 20 soluções, mas é aí que começamos a sair do lugar comum mergulhando no universo das atitudes extraordinárias.

Agora, convido a você, que tem múltiplas tarefas no seu dia-a-dia, a usar da procrastinação como sua aliada. Não se deixe abater por coisas que fazem parte da rotina do seu trabalho. Apenas, em alguns momentos, deixem que os problemas se solidifiquem com o tempo, para que soluções criativas surjam com naturalidade.

(*) – Formado em composição e regência pela FAAM, com MBA em Marketing e Finanças pela University of Southern California e em Liderança na Harvard Business School, é diretor geral da TGR Ventures, e sócio fundador do INXCL Group.