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A nova consciência política do eleitor

em Artigos
terça-feira, 16 de maio de 2017

Gabriel Rossi (*)

Na era da transparência e da responsabilidade, confiança e credibilidade precisam ser conquistadas

A questão egóica inerente em boa parte de nossos políticos passa a ser cada vez mais mal vista. Precisam falar mais diretamente sobre benefícios, lifestyle, valores e contar boas e autênticas histórias. O sentido de liberdade mudou muito para esse novo eleitor. Ter carro, por exemplo, não é mais aspiracional. Liberdade está agora na experiência e não o que é físico.

Passa a ser mais difícil entender eleitores pelo perfil demográfico. Vivemos uma época marcada pelo fim dos estereótipos e da construção da identidade. O conceito de juventude, por exemplo, para de ser números. Idade de espírito é o termo da vez. A longevidade aliada a aceleração do mundo permite que os eleitores possam reconstruir quem são e suas vidas a qualquer momento.

O conceito de classe social também vem sofrendo deteriorações, isso está cada vez mais claro nos padrões de consumo (menos pautado pelas diferenças de classe e mais por afinidades e gostos pessoais) e consequentemente afeta a consciência do voto. A influência não vem mais apenas do topo da pirâmide. Ela flui por todos os lados. As pessoas se misturam e interagem muito mais.

Em suma: as mudanças tecnológicas e culturais não dão mais tempo para separar pessoas (eleitores) em gerações. Se faz necessário criar “clusters” através de conjuntos de hábitos, lifestyle. Isso representa um grande desafio para os institutos de pesquisas que precisarão se reinventar assim como deveria preocupar estrategistas de campanha que ainda não perceberam a macrotransição societal em curso.

O eleitor de 2018 vai querer que políticos saiam de cima do muro mas sem o “pé na porta”. Com as redes sociais e tantas outras plataformas presentes no cotidiano das pessoas, “marcas políticas” precisam sempre buscar uma forma direta de interação e humanização. Cada vez mais os candidatos precisarão mostrar, através de ideologias e causas, personalidade para estreitar o relacionamento com seus stakeholders. Mas não vale opinar apenas pelo ato de opinar. Que os futuros candidatos aprendam que neste contexto é fundamental uma avaliação profunda para realmente obter resultados positivos.

Alguns fatores e tópicos precisam ser levados em consideração. Por exemplo: Tal discurso faz parte dos valores da minha campanha e da minha história como homem público? Está no DNA? Em outras palavras, é um esforço genuíno que permite criar uma narrativa verossímil? Afinal, na era da transparência e da responsabilidade, confiança e credibilidade precisam ser conquistadas. A autenticidade, nestes casos, muitas vezes, acaba sendo mais importante que a própria mensagem. Em outras palavras, se todo esforço de algum modo não estiver “linkado” com o diferencial central do político, o esforço é inútil.

Nas últimas eleições houve uma quantidade alarmante de votos nulos e brancos: recado claro que a população está cansada do status-quo. Essa tendência é mundial. As pessoas estão cansadas de políticos profissionais. O atual eleitor quer sintonia com as demandas sociais (corpo a corpo) mas também quer candidatos com identidade forte – história, propostas, arquétipo e autenticidade. Sairá na frente quem tiver um aspecto de liderança forte assim como viabilidade nas propostas e uma história repleta de conexões emocionais.

Sim, a internet é um caminho sem volta mas não adiantará nada querer atuar só nos 45 dias de campanha. É necessário minerar, analisar e entender os dados bem antes. Haverá a influência mais incisiva de um eleitor renovado, cidadão que está ligado 24 horas e que deixou de ser convencido meramente por propaganda eleitoral.

Este eleitor moderno, digital e com uma voz que não possuía, quer ser surpreendido positivamente e cada vez mais deposita interesse em um “portfólio” restrito de políticos com propostas dinâmicas, visionárias e criativas. Eles são impacientes, querem ser entretidos e apreciam a informação segmentada, importando, no final das contas, o que uma outra pessoa da mesma idade e comunidade pensa. Fatores como a possibilidade de customizar a informação, a acessibilidade, a autenticidade, a gratificação instantânea, ou seja, a necessidade imediatista de resposta precisam ser considerados.

O neoeleitor enxerga a política e participa politicamente de modos específicos. É com esta especificidade que os políticos e os partidos precisam lidar. É preciso saber perceber sentimentos, sensibilidades e expectativas, estimular a participação e oferecer respostas para as demandas não resolvidas ou não satisfeitas. Mas vale lembrar que a geografia do voto não mudou. Respectivamente: estômago, bolso, coração e cérebro.

A economia continua tendo uma importância sine qua non no processo decisório, assim como é imprescindível o uso da emoção por parte dos candidatos.

(*) – Estrategista especializado na construção de marcas e reputação e diretor-fundador da Gabriel Rossi Consultoria, com passagens por instituições como Syracuse/Aberje, Madia Marketing School, University of London e Bell School.