José Carlos Nascimento (*)
Desde os séculos XVIII e XIX, quando tivemos a primeira Revolução Industrial, a sociedade segue evoluindo em um ritmo acelerado.
De lá para cá, presenciamos a invenção dos computadores, smartfones e o nascimento e popularização da Internet. Agora, entramos na chamada 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0, uma era de novos modelos de negócios e de quebra de paradigmas. Essa nova onda de transição, impulsionada pelo mundo corporativo, vai muito além da adoção de tecnologias e invenção de objetos inteligentes, ela altera a forma como vivemos, nos relacionamos e trabalhamos: é a Transformação Digital.
E essa nova revolução está mais pautada nas pessoas do que nos softwares, de fato. O mundo está mudando e nós temos que mudar também. E tudo isso, afeta diretamente os trabalhadores. Neste novo cenário conectado e digital, aprender a usar as novas tecnologias é apenas o básico. O profissional do futuro – que na verdade já chegou – precisa estar preparado para desconstruir boa parte dos seus conceitos e criar outro mindset. Ou seja, reorganizar os seus pensamentos e a forma de encarar o cotidiano, tanto na vida pessoal, quanto no trabalho.
Quando falamos em automatização, logo surge o tema do desemprego. A máquina vai mesmo substituir o homem? Não! Mas a expansão das novas tecnologias altera o formato de trabalho. Vamos imaginar a rotina de um atendente de contact center. Anteriormente, para atuar nessa posição era essencial falar bem e ter desenvoltura no relacionamento com o público. Agora, além dessas habilidades, também é necessário saber lidar com um software de atendimento online e estar conectado a tudo que acontece ao seu redor.
Nessa trajetória, a interação no ambiente digital tem um papel significativo. Como é o caso dos processos seletivos hoje, por exemplo. A busca por um novo trabalho começa nas redes sociais como Facebook e LinkedIn – são nesses canais que as pessoas ficam sabendo das vagas e é por lá, que elas se candidatam e também iniciam o primeiro passo do processo. Dentro deste contexto, como as empresas podem lidar com a Transformação Digital?
Paradoxalmente, é investindo em uma cultura organizacional pautada no lado humano, considerando que a organização é formada por pessoas que têm suas expectativas e sonhos. A área de recursos humanos e as lideranças devem trabalhar juntas para criar um ambiente inclusivo e uma cultura digital. O colaborador precisa saber o que está acontecendo, em tempo real, e participar ativamente da mudança. A comunicação transparente é essencial para criar o senso de pertencimento e consequentemente, gerar engajamento.
Se a companhia adotar a política de home office, um modelo de trabalho que está crescendo na Era Digital, é importante desenvolver mecanismos para manter o funcionário conectado, com um rodízio presencial, reuniões de vídeos e/ou encontros semanais. Enfim, é criar dinâmicas que façam ele se sentir fisicamente próximo e um membro com voz ativa. O grande desafio da transformação digital é que não existe uma receita de bolo porque estamos falando de pessoas, com capacidades distintas de adaptação e aprendizado.
Toda mudança é desafiadora, gera medos e inseguranças, mesmo quando é para melhor. O ser humano passa pelo processo de entendimento e absorção do impacto para ter resiliência – isso já é cientificamente comprovado. Outro fator importante nesse processo é o convívio de diferentes gerações em um mesmo ambiente. A empresa pode criar ações para equilibrar essa relação, valorizando a experiência, mas também dando espaço para o novo. Por fim, o aspecto mais relevante é a conscientização do colaborador, sobre a importância de assumir o protagonismo da sua carreira e evolução.
A empresa provém as ferramentas e cria um ambiente interno propício, mas o colaborador escolhe se quer ou não embarcar nessa jornada. Cabe a cada pessoa avaliar os seus principais pontos de melhoria e buscar a capacitação e adaptação necessária para esse novo mundo que está surgindo. A digitalização é uma constante, que não tem mais volta. Por mais cruel que possa parecer, quem não se adaptar, estará fora do mercado.
Isso para determinados perfis de profissionais será um choque, mas é uma realidade e não uma escolha – imagine se os taxistas não tivessem se adaptado aos aplicativos? Teríamos um número expressivo de desempregados. Falando do ponto de vista dos negócios, a companhia deve traçar uma estratégia, mapeando os seus principais objetivos e o que é necessário fazer para chegar lá. Investindo na capacitação e desenvolvimento do seu público interno, provendo uma comunicação transparente e um trabalho de cultura com foco nas pessoas.
Tudo isso, compreendendo que a mudança é um processo que leva tempo. Porém, ela traz inúmeros benefícios: funcionários motivados performam melhor e contribuem para a eficiência operacional. Resumindo, investir na transformação digital, considerando a humanização, é o caminho para conduzir a empresa a outro patamar competitivo.
(*) – É diretor de recursos humanos da ao³.