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A logística na Construção Civil

em Artigos
quarta-feira, 24 de maio de 2023

Roberto Pansonato (*)

Se você mora em um local tranquilo e de repente observa que o início da construção de um edifício, você logo pensa: “acabou o meu sossego”.

Ruídos (que são quase inevitáveis), caminhões parados em frente às garagens, sujeira e entulhos que invadem as calçadas e perturbação do trânsito local. Mas será que tem que ser assim? A construção civil tem participação expressiva no PIB nacional. Segundo a Sinduscon-SP, o PIB da construção civil cresceu 6,9% em 2022 e sempre responde rapidamente a qualquer direcionamento de melhoria na economia.

Por outro lado, a indústria da construção civil possui um alto índice de desperdício, seja em matéria-prima ou mão de obra, principalmente, se comparado com a indústria automotiva, por exemplo. Mas, onde entra a logística nesta história? Vamos por partes. Alguns profissionais têm destaque especial na construção de um empreendimento. O arquiteto, é o profissional que projeta e idealiza os espaços para os mais diversos usos.

O engenheiro civil, é responsável pelo projeto civil, gerenciamento e execução das obras, atuando praticamente em todas as etapas de uma construção, sobretudo e, principalmente, nos processos de conversão, ou seja, converter todo material disponível em valor agregado por meio das tecnologias disponíveis.

Sem contar a alta responsabilidade quanto aos cálculos estruturais e se a obra atende aos requisitos de segurança. Lá na ponta, temos o mestre de obras, que tem como responsabilidade liderar a equipe de operários da construção civil dentro do canteiro de obras. Até aqui, por meio de recursos humanos, equipamentos e tecnologia, convertemos toda matéria-prima em um produto, ou seja, em um edifício, por exemplo. Mas, a que custo?

Além dos processos de conversão, temos os processos dos fluxos, e aí é que entra a logística. Fluxos de processos como transportes de materiais dos fornecedores ao canteiro de obras, podem (e devem) ser programados para evitar as filas durante a entrega. As compras devem ser feitas em escala para redução de custos, porém as entregas precisam ser fracionadas.

O layout do fluxo logístico do canteiro de obras tem que ser muito bem planejado para permitir que haja escoamento uniforme de todo material ao longo da obra bem como da utilização da mão de obra. O controle de estoque de matérias deve ser criterioso, observando as quantidades de estoques mínimo e máximo e o ponto de pedido. O gerenciamento adequado da logística de uma obra certamente diminui custos.

Utilização de filosofias de gestão tais como a Lean Construction, baseada no Lean Manufacturing (Produção Enxuta), é fator importantíssimo na eliminação dos desperdícios.

Além dos fluxos logísticos diretos, que definem a fluidez de materiais e informações direcionados a conclusão da obra, temos também os fluxos reversos, e nesse momento entra a logística reversa, que se encarrega em dar destino aos resíduos provenientes da obra.

Muitas vezes, em uma obra, o foco dos esforços recai sobre os processos de conversão, deixando os fluxos logísticos em segundo plano, porém esta escolha pode causar prejuízos à obra. Só para lembrar, as indústrias de automóveis e autopeças há 40 ou 50 anos eram reconhecidas por terem um ambiente agressivo, sujo e com fluxo confuso, no entanto hoje algumas destas indústrias parecem mais com shopping centers.

Esta mudança na forma de produzir bens proporcionou eficiência e eficácia ao setor automotivo. Será que um dia teremos o mesmo modelo na construção civil? Provavelmente é só uma questão de tempo, entretanto, com certeza, esta transformação passa pela logística.

(*) – É Designer de Produto, com atuação em Gestão de Engenharia de Processos e Produção; professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde atua na tutoria dos cursos de Logística e Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos.