Bruno Martins (*)
Em uma palestra no maior festival de tecnologia e inovação do mundo, no South by Southwest (SXSW), realizado em Austin, no Texas, o executivo que comanda a divisão do ChatGPT na OpenAI, Peter Deng, disse que a inteligência artificial vai acelerar o trabalho e não substituir pessoas.
Apresentando uma visão otimista sobre o futuro do trabalho frente ao uso da tecnologia, ele afirmou ainda que o recurso vai funcionar como um professor incansável. “Se pensarmos que cada pessoa pode acelerar seu trabalho com a IA, as pessoas que dedicarem um tempo para refinar o uso da IA, terão um impulso com a ferramenta”, afirmou Deng para um auditório lotado com mais de 1.700 pessoas.
O executivo usou como referência os dados da pesquisa do Boston Consulting Group que revelou que 43% dos entrevistados tiveram um aumento de desempenho quando usaram a inteligência artificial generativa. O levantamento apontou ainda que quase todos os participantes (cerca de 90%), independentemente da proficiência inicial, produziram resultados de maior qualidade ao utilizar o GPT-4 para a tarefa de inovação de produtos criativos.
Sem responder aos questionamentos polêmicos da plateia, Peter Deng reforçou apenas que a inteligência artificial é um grande equalizador de aprendizado. Contextualizando o que o executivo disse à nossa realidade no mercado de trabalho brasileiro, o que temos visto é que a inteligência artificial tem batido à porta das empresas. Ao invés de rechaçá-la e ignorá-la, não teremos mais como deixar de usá-la no nosso dia a dia. A pergunta que teremos que fazer agora é a seguinte: como implementá-la a nosso favor?
O impacto da inteligência artificial no mercado de trabalho já está acontecendo em algumas instâncias. Com relação à demanda por especialistas, com o avanço da tecnologia está sendo necessária a integração da inteligência artificial em vários setores como finanças, varejo e saúde. A consequência disso tendo sido o crescimento exponencial da procura por profissionais como engenheiros, cientistas de dados, desenvolvedores de software, especialistas em aprendizado de máquina.
Por ser uma área multidisciplinar, o mercado de trabalho em inteligência artificial vai exigir que o especialista tenha uma combinação de conhecimento em várias áreas como ciência da computação, estatística, matemática, engenharia de software e habilidades em comunicação, ética e interpretação de dados. Além disso, a ferramenta vai transformar as profissões tradicionais ao apoiá-las na tomada de decisões, análise de dados e automação de tarefas repetitivas.
Como nem tudo são flores, os questionamentos sobre o uso da inteligência artificial são muitos e passam principalmente, por questões que envolvem ética e transparência. A utilização desta tecnologia em decisões sensíveis como em casos de diagnósticos médicos, por exemplo, é considerada uma preocupação importante.
Vale lembrar também que a falta de uma legislação que regulamente e que garanta uma abordagem responsável do uso da inteligência artificial em vários países, inclusive no Brasil, pode trazer riscos para a sociedade como violação de privacidade e uso indevido de dados pessoais e discriminação algorítmica e vieses presentes nos sistemas de utilização do recurso. Aqui no país, a expectativa é que o Marco Legal da Inteligência Artificial seja votado pelo Senado Federal no primeiro semestre deste ano.
Apesar da queixa sobre o desemprego tecnológico, a boa notícia é que sempre haverá espaço para trabalhos que gerem valor, nos quais as pessoas tenham habilidades como criatividade, senso crítico, pensamento complexo, capacidade emocional e social, liderança, gestão, habilidades de adaptação, empatia, inovação e rapidez para propor soluções e para desempenhar funções com protagonismo e autenticidade.
Profissionais que conseguem ter uma conexão com o cliente e habilidades para atendimento serão ainda mais valorizados. Talvez Peter Deng estivesse nos dando apenas uma breve informação sobre o potencial da inteligência artificial.
Caberá a nós garantir que a implementação da ferramenta seja feita de forma ética, responsável e inclusiva e saber usá-la como uma parte fundamental no mercado de trabalho.
(*) – É CEO da Trilha Carreira Interativa (https://www.trilhacarreira.com.br/).