Cesar Gioda Bochi (*)
Enxergar a relevância de uma agência bancária ou de cooperativa para além dos produtos oferecidos por ela pode ser desafiador para a maioria das pessoas.
No entanto, cresce a consciência de que por trás de agências, soluções, sistemas e aplicativos, há muitas instituições financeiras com papel social, geradoras de impactos nas regiões onde atuam. Em especial, o Cooperativismo de Crédito está bastante avançado nesse sentido, se caracterizando por propiciar um relacionamento mais próximo ao associado, que não é cliente, mas o próprio dono do negócio.
No Brasil, com 11 milhões de associados, o segmento tem crescido consistentemente, mas o espaço que ocupa no sistema financeiro ainda é pequeno, perto do seu potencial, como os números dos países desenvolvidos demonstram. Mesmo assim, o impacto gerado pela sua atuação na economia do país já é muito relevante e pode ser demonstrado por meio de dados oficiais.
De um lado temos o ótimo trabalho feito pelo Banco Central em reunir informações sobre o avanço do cooperativismo de crédito pelo país e a própria Agenda BC#, que traz o segmento como um pilar importante para a inclusão financeira e consequentemente para o crescimento econômico. De outro, percebemos que as instituições financeiras que atuam nesse modelo estão muito mais empenhadas na produção de dados e estudos que possam demonstrar os benefícios da sua atuação.
As duas pesquisas anunciadas pelo Sicredi neste ano são um bom exemplo disso. Uma delas, de autoria da Fipe, avaliou dados econômicos de todas as cidades brasileiras com e sem cooperativa de crédito entre 1994 e 2017 e cruzou informações do IBGE, evidenciando que o cooperativismo de crédito incrementa o PIB per capita dos municípios em 5,6%, cria 6,2% mais vagas de trabalho formal e aumenta o número de estabelecimentos comerciais em 15,7%, estimulando o empreendedorismo local.
Outro estudo, conduzido a pedido do Sicredi pelo especialista em Desenvolvimento Econômico, Juliano Assunção, pesquisador da PUC-Rio, mostrou que o cooperativismo de crédito é um dos mecanismos mais eficazes para promover acesso aos serviços financeiros às pessoas em municípios menores, mais distantes e rurais do Brasil.
Segundo o estudo, enquanto bancos tradicionais têm em média um limite mínimo de 8 mil habitantes para abrir uma agência, uma cooperativa de crédito tem capacidade de abertura em municípios a partir de 2,3 mil habitantes. A comparação em termos de renda também chamou atenção, apontando que as cooperativas conseguem operar em cidades com PIB a partir de R$ 79 milhões, enquanto para os bancos públicos é necessário um PIB mínimo R$ 146 milhões e para um banco privado, R$ 220 milhões.
A razão para esses resultados é a proximidade com os associados, como apontou a Fipe, tendo um diferencial importante na concessão de crédito, conhecendo a realidade de cada um para poder tanto aconselhar corretamente, quanto medir melhor os riscos. Além disso, a cooperativa coloca o associado no centro das decisões, de tal forma que ele participa ativamente dos rumos do negócio.
Isso faz com que a abertura de uma agência em um local longínquo não passe apenas por um estudo de viabilidade financeira em que o resultado financeiro ao longo dos anos tem que ser maior que o custo de capital e o risco da operação. Havendo intenção da sociedade e não onerando os demais associados, uma agência cooperativa pode se concretizar.
Essas características fazem com que elas sejam instaladas em locais mais distantes do que os alcançados pelos bancos privados, que são, normalmente, os que mais carecem de serviços financeiros. No contexto atual de pandemia, olhando as regiões mais remotas e menores, é ainda mais evidente a importância das instituições financeiras, especialmente, das cooperativas de crédito.
Os dados apresentados a partir de estudos do professor Juliano Assunção têm grande potencial para, além de mostrar os benefícios do modelo cooperativista, apoiar na organização de políticas públicas de apoio à população, por exemplo. A capilaridade da atuação das cooperativas de crédito, comprovada pelos estudos, é um instrumento valioso no que tange ao acesso ao sistema financeiro, na distribuição de benefícios e linhas de crédito.
Dessa forma, o movimento que visa ampliar a percepção da sociedade sobre as instituições financeiras cooperativas a partir da produção e análise de dados pode, muito mais do que ratificar o que já é dito e sentido pelas comunidades locais, contribuir cada vez mais com a resolução de desafios importantes da agenda econômica nacional como a inclusão e educação financeira e a geração de renda local.
Nesse sentido, os estudos têm também o papel de comprovar cientificamente o que é sabido, fomentado e realizado há mais de um século pelas cooperativas de crédito no Brasil.
(*) – É diretor executivo de administração do Sicredi.