103 views 6 mins

A indolência da classe média

em Artigos
terça-feira, 05 de fevereiro de 2019

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

Em 25 de janeiro de 1554, um grupo de padres da Companhia de Jesus, da qual faziam parte José de Anchieta e Manoel da Nóbrega, escalou a Serra do Mar e chegou ao planalto de Piratininga onde encontrou “ares frios e temperados como os de Espanha” e “uma terra mui sadia, fresca e de boas águas”.

Foi construído um colégio, o Pateo do Collegio, onde o povoado começou a se desenvolver e se transformou na cidade dinâmica e acolhedora que atraiu pessoas de todas as raças e povos. Apesar do brasão: “Não sou conduzido, conduzo”, São Paulo ainda não alcançou a posição que lhe cabe no caminho do progresso e continuada melhora das condições gerais de vida.

De longa data, as riquezas da América do Sul têm sido alvo de cobiças. Hugo Chávez (1954/2013), ex-presidente da Venezuela, quis controlar a riqueza, mas embriagou-se com o poder e o povo continuou sufocado sem oportunidade para evoluir. Agora a geopolítica é outra, mas o povo venezuelano permanece no abandono.

A Constituição Venezuela, a lei máxima para defender os interesses do povo e da nação, atende aos princípios democráticos? Como sair do
impasse gerado pelo direito da força? Quem deveria assumir interinamente o governo para realizar eleições livres, de forma imparcial, honesta e democrática num prazo bem curto? A imprensa livre deveria acompanhar tudo atentamente e informar ao mundo o que estiver se passando? Poderão concorrer candidatos com ficha limpa, entregando-se a decisão ao voto consciente do povo, sem coação e sem temores?

No Brasil, estamos passando por dificuldades desde a crise da dívida externa nos anos 1980, mas a situação se foi agravando com a ausência de estadistas, e com a classe política agindo sempre em função da próxima eleição, adotando medidas paliativas para favorecer a poucos, deixando passivos enormes aos sucessores. A população precisa ser advertida sobre as dificuldades, embora não tenha criado todos esses problemas de déficits nas contas e o colossal aumento da dívida com a capitalização de juros sobre juros.

A situação geral do mundo tende para o amadurecimento, para a colheita de tudo que tem sido semeado. Já temos muitos problemas para resolver. A prioridade deve ser corrigir os estragos no país que vem decaindo há décadas e resgatar seu povo, o qual precisa se mover na
direção do aprimoramento humano. O Brasil não cobiça as riquezas da Venezuela, não tem porque se envolver nessa briga, sede de riqueza e poder da nova geopolítica.

Muito apropriado que se definam os rumos da previdência nesta fase de revolução industrial 4.0 e grandes transformações. No caso de países endividados como o Brasil, também é importante traçar o perfil da dívida que deve ser contida para que a economia de um setor não venha a ser absorvida por outro sem que haja uma real melhora geral.

O otimismo de cidadãos esclarecidos resulta da ruptura do sistema que desserviu o Brasil desde 1985, com a posse do vice-presidente José Sarney pelo PMDB, que assumiu o governo devido ao falecimento de Trancredo Neves, ambos eleitos indiretamente por um Colégio Eleitoral. Seguiram-se PSDB e PT que pouco fizeram, e após um breve período de euforia com o Real valorizado e juros elevados o país foi perdendo várias indústrias, não educou a população e se endividou. Revoltados, os eleitores escolheram Jair Bolsonaro.

Os perdedores estão esperneando, criando dificuldades para o progresso e para a melhora das condições gerais de vida. A situação é difícil, agravada com a desordem global. O sonho do homem de classe média de obter sucesso profissional para que possa atender às necessidades básicas de sua família, com padrão de vida que lhe permita conforto, lazer e educar os filhos vai se tornando difícil, mas, como criatura de
essência espiritual, também deveria desejar conhecer o significado da vida, assim como essa também deveria ser a aspiração da classe rica e daqueles com menor renda.

O que faz a massa ser influenciável é a indolência. O apagão mental e a indolência estão avançando no Brasil e no mundo, o oposto do que o ser humano deve ter: clareza, simplicidade e naturalidade no pensar, falar e agir. Agilidade para perceber os problemas e buscar soluções sem o comodismo paralisante.

(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.vidaeaprendizado.com.br) e (www.library.com.br). E-mail: ([email protected]); Twitter: @bidutra7.