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A grande prioridade

em Artigos
quinta-feira, 14 de novembro de 2019

Benedicto Ismael Camargo Dutra (*)

A busca continuada de melhores condições gerais de vida já foi a grande prioridade, mas ficou meio esquecida.

Tanto os indivíduos como os países acabaram colocando o dinheiro acima de tudo. Os países foram em busca da moeda global, passando a produzir para exportar. Quem não conseguia, tomava financiamento externo. O que aconteceria se os países se voltassem para atender primeiro à população interna, deixando excedentes para exportar?

O ser humano, dominado pela vontade mental, com seu raciocínio limitado ao tempo-espaço, dá ênfase à necessidade de continuada adaptação à realidade que surge como consequência de seus atos. É preciso deixar a vontade espiritual, a intuição, se manifestar e cada indivíduo se ocupar seriamente com o significado da própria existência.

O Brasil e o mundo se defrontam com crises fundamentais. Não bastam paliativos no combate à desigualdade e miséria; faltam projetos de humanização da vida. As novas gerações têm de receber bom preparo. O homem nasce pedra bruta com essência preciosa que precisa ser despertada e polida para brilhar, o que se alcança com o fortalecimento da espiritualidade. Mais do que nunca, os estímulos se dirigem para as baixarias e imoralidades.

Falta gratidão pelo dom da vida, prolifera o descontentamento em vez da espontânea alegria de viver. Apesar de todo avanço da tecnologia, o bom preparo das novas gerações ainda está descuidado. As crianças devem, desde cedo, entender que sem educação não conseguirão progredir na direção de seres humanos de valor, espiritualmente fortes e responsáveis, benéficos a si mesmos e ao planeta.

A geração que agora galga a adolescência, e a anterior, não se sentem motivadas para estudar, avançar e progredir; ao contrário, se entregam ao prazer imediato e à revolta, pois não veem perspectivas. Uma boa saída seria a adoção de programas de participação nos resultados sem integrar o salário.

Os salários tendem para o mínimo nesta fase de globalização na qual se buscam trabalhadores de menores custos. Os encargos sociais pesam e vão parar nas mãos de maus gestores. A falta de preparo para a vida é cada vez maior, o que favorece o desperdício de mais uma geração e isso já está acarretando a fragilização e estagnação do Brasil.

Facilmente as pessoas encontram justificativa para explicar a miséria e a precarização. Capitalismo, comunismo, neoliberalismo, são rótulos, pois por trás está o ser humano e sua despreocupação em causar danos ao próximo para satisfazer a própria cobiça. A riqueza vem dos recursos naturais valiosos e escassos, mas que ficam nas mãos de poucos.

Adentramos numa temporada de juros baixos. Qual é o significado? Um fôlego para a dívida elevada? Enfraquecer o dólar? Se isso tivesse sido praticado com antecedência, outro seria o status da atividade econômica. Banqueiros e gestores públicos imaginavam que, em não havendo dono para o dinheiro público, poderiam fazer o que bem entendessem com ele.

Funcionou por décadas, mas com as transformações decorrentes da globalização, caíram a produção, os empregos, a renda e a arrecadação, e dessa forma o risco de insolvência se tornou real. Mas com a globalização o remanejamento da situação ficou difícil. A queda nos juros dá um fôlego, mas a conta bate mais forte sobre os mais fracos. Falha do Estado, falha dos governantes e da classe política?

Já nos anos 1500 o europeu pensava em tirar o máximo de vantagem. Com isso, não se formou uma consciência nacional firme; mesmo no movimento de independência do Brasil havia os que eram contra. Permanecemos deficientes na saúde, educação e na formação do país.

O Estado ficou na mão de um punhado de interesseiros que derrubaram D. Pedro II quando esse deu um basta ao trabalho escravo, mas o que se seguiu foi um completo abandono da população e continuada exploração das riquezas do país para o benefício de poucos.

Os jovens precisam conhecer a trajetória espiritual da humanidade para saber o estágio em que nos encontramos, pois a prioridade básica para fortalecer as novas gerações e o país está no bom preparo para a vida. Uma nova ética deverá ser alcançada com o reconhecimento das responsabilidades individuais de não causar danos a outros para satisfazer a própria cobiça.

(*) – Graduado pela FEA/USP, faz parte do Conselho de Administração do Hotel Transamerica Berrini, realiza palestras sobre qualidade de vida. Coordena os sites (www.library.com.br) e (www.vidaeaprendizado.com.br). E-mail: [email protected]; Twitter: @bidutra7.