José Pio Martins (*)
As crises econômicas têm parecença com o corpo humano.
Assim como as doenças, elas não surgem de repente; são consequências de problemas que vão se formando e um dia estouram, causando danos e tragédias. Também como as doenças, as causas das crises passam despercebidas para muitas pessoas. Embora o corpo humano disponha de exames que podem detectar as causas de doenças, na economia as causas nem sempre são visíveis.
Atualmente, há ondas mundiais que, em futuro não muito distante, provocarão efeitos devastadores. Essas ondas são invisíveis aos olhos da multidão, sobretudo para os leigos e os desinteressados, e provocarão falências espetaculares, crises profundas e mudanças radicais, que farão o mundo nunca mais ser o mesmo. Mas você pode treinar sua mente para ver o que a multidão não está vendo.
Buckminster Fuller (1895-1983), inventor, futurista, arquiteto e escritor, considerado um gênio visionário, fala da diferença entre o cérebro humano e a mente humana. Para ele, o cérebro vê os objetos tangíveis. O que não é tangível nem perceptível aos olhos só pode ser visto com a mente. E dr. Fuller diz que “você não pode desviar-se de coisas que não vê movendo-se em sua direção”.
Quando o automóvel moderno surgiu, há pouco mais de 100 anos, muitos acreditavam que seria apenas uma novidade passageira, um luxo para os ricos. Mas logo o automóvel substituiu o cavalo como transporte de massa… e o mundo mudou. Em sua maioria, as pessoas não viram que o automóvel era a nova tecnologia que faria a transição do transporte da Era Agrária (o cavalo) para o transporte da Era Industrial (a carroça sem cavalo, com motor). Para desespero de seus donos, os cavalos ficaram desempregados.
Estudando as grandes catástrofes financeiras, podemos ver que as causas foram geradas ao longo de anos, até a explosão do mal que atingiu pessoas, empresas e governos. A mais recente crise financeira mundial, estourada em 2008, teve suas causas plantadas e desenvolvidas por mais de 20 anos. Não foi obra do acaso nem surgiu de repente. Foi uma onda, que infelizmente a maioria não viu.
Em 1970, o Brasil tinha 90 milhões de habitantes, dos quais 46% viviam na zona rural. Hoje, somos 206 milhões e apenas 12,5% vivem no campo. Nos Estados Unidos, somente 3% da população vive na zona rural. A reforma agrária é uma luta inglória. Ela põe 1 milhão de famílias na lavoura e a tecnologia manda 2 milhões para as cidades. É a revolução tecnológica agrícola, que automatiza a produção e desemprega pessoas.
A questão essencial é saber quais ondas estão vindo em nossa direção e das quais não nos desviaremos porque não as estamos vendo. No momento em que a humanidade caminha para chegar a 9,4 bilhões de habitantes em 2050, os efeitos dessas ondas invisíveis poderão lançar milhões no desemprego e na velhice, sem renda, sem patrimônio e com aposentadoria insuficiente.
Uma grande onda está se formando nas finanças mundiais. Trata-se das operações de derivativos (contratos futuros mercantis e financeiros, derivados de commodities, ações, títulos de crédito, juros, câmbio e moedas). O produto mundial é de US$ 78 trilhões/ano e as operações em derivativos somam mais de dez vezes esse valor.
É uma cifra gigantesca, que pode ser a maior bolha de todos os tempos pois, embora não sejam operações maléficas, suas regras nunca foram testadas suficientemente.
(*) – Economista, é reitor da Universidade Positivo.