Thomas Monteiro (*)
A americana Tesla (TSLA), de Elon Musk, é a empresa de veículos mais famosa do mundo e seus automóveis são sonho de consumo de milhões de pessoas. No entanto, a chinesa BYD é a que está ganhando musculatura no mercado brasileiro, com um investimento inicial de R$ 3 bilhões no complexo industrial em Camaçari (BA), anteriormente pertencente à Ford.
Além disso, a empresa está com inserções comerciais em programas de grande audiência na TV Globo. Por que a BYD tomou a dianteira no mercado brasileiro de veículos elétricos, e não a Tesla?
O objetivo mais imediato da BYD é consolidar sua liderança nos mercados em desenvolvimento, evitando astutamente as regiões mais competitivas onde a Tesla reina supremamente, ou seja, América do Norte e Europa Ocidental. Somente a partir desse ponto ela começará a considerar uma expansão mais significativa nos mercados mais desenvolvidos mencionados anteriormente.
A razão para essa abordagem é bastante simples: a Tesla deixou uma lacuna significativa em sua estratégia, falhando em se concentrar em veículos populares, que têm sido o cerne da rentabilidade na indústria automotiva por anos.
Obviamente, há uma razão para isso, que é o fato de que Musk percebeu que sua empresa teria dificuldade em produzir veículos em grande escala, especialmente em meio às interrupções na cadeia de suprimentos na indústria de semicondutores que ocorreram após a crise de Covid-19.
No entanto, a estratégia da BYD está começando a render grandes frutos, pois superou a Tesla no terceiro trimestre por uma ampla margem ao contar os híbridos e está bastante próxima de assumir a liderança global nas vendas de veículos elétricos puros.
Isso cria um cenário muito interessante, pois é uma espécie de batalha difícil para ambas as empresas: a BYD certamente enfrentará desafios para globalizar suas vendas além da Ásia e da América Latina, enquanto a Tesla precisará se esforçar para descobrir como produzir carros mais populares.
Nesse contexto, as ações da BYD continuam sendo uma aposta de valor devido a todas as suas métricas, especialmente considerando que ambas as empresas têm uma diferença de cerca de US$ 650 bilhões em capitalização de mercado. Não é surpreendente que o megainvestidor Warren Buffett tenha apostado na empresa chinesa em vez da americana.
No entanto, há riscos consideráveis para a BYD, que os investidores precisam levar em conta. Um deles é a dependência da BYD em um mercado chinês em dificuldades. O segundo é a política, uma vez que o governo chinês consistentemente mostrou que não deseja que as empresas de tecnologia cresçam demais fora de seu domínio.
(*) – É o editor principal da seção de Opinião e Análise do Investing.com (https://br.investing.com/members/contributors/235020313).