Por Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza
Fevereiro foi um mês agitado. O mundo ficou estremecido pela explosão de conflitos que abalou não só os ucranianos como também o mundo, que ainda analisa as consequências diretas e indiretas de uma guerra. Situação impensada em pleno século XXI.
Porém, a realidade no Brasil no mês de fevereiro revelou resultados surpreendentes da balança comercial: superávit de exportações de US$4,04 bilhões, 114,2% de aumento na exportação do agronegócio, somando US$4,92 bilhões de lucro. Curiosamente, esse aumento das commodities ocorreu por conta do conflito.
Já a balança da segunda quinzena de março fechou e a realidade é otimista e chega muito perto do montante total do mês de fevereiro. Mas essa alegria pode até ultrapassar os dados mencionados acima, a questão é, quanto tempo teremos essa abundância de superávit? Essa quinzena a balança bateu US$ 3,604 bilhões, o resultado das exportações US$ 11,702 bilhões e US$ 8,097 bilhões de importações, segundo dados do ministério da economia.
A perspectiva é positiva, entretanto, está ameaçada por uma guerra entre Ucrânia e Rússia, que geram impactos inimagináveis. As consequências reverberam em um cenário globalizado fundado no livre comércio. Nesse modelo, a “teoria do caos” é uma verdade inegável, afinal, uma pequena mudança em uma cadeia pode causar enormes abalos.
A questão passa a ser ainda mais preocupante ao considerarmos que a maior exportadora de fertilizantes, principalmente fosfatados, para o consumo brasileiro é a Rússia, que, apesar de ter suspendido a entrega do material para outros países, ainda mantém a distribuição para o Brasil – mas, agora, com problemas graves de distribuição e pagamento. E a verdade é que essa fila de dominós, pode sim, cair, mas não será algo tão próximo como imaginávamos.
Muitas safras e plantios brasileiros já estão plantadas e os insumos necessários serão suficientes para suprir a demanda e completar a produção agrícola. Além disso, algo que precisa ser levado em consideração é o fato de que as relações entre o Brasil, Rússia e Ucrânia representam uma pequena fatia da corrente de comércio brasileira, algo em torno de 1,5% das atividades, somente. Portanto, apesar de haver impacto, com preparação e adaptação, a crise pode, muito bem, ser evitada.
Os planos já estão em andamento, seja com o estudo de novos fornecedores – como Canadá e Irã – seja com o planejamento de uma inédita produção interna, pautada pelo Plano Nacional de Fertilizantes, uma solução há longo prazo, mas que pode elucidar de vez a dependência brasileira na importação desses insumos.
Pensando nisso, posso dizer com alguma certeza que, apesar da borboleta ter batido as asas, o tufão no agronegócio brasileiro ainda não chegou, desde que tomemos as medidas necessárias para que possamos suprir nossas próprias demandas.