André Ito (*)
A desintermediação financeira nunca se fez tão presente no agronegócio brasileiro e veio em um bom momento.
O setor vive um cenário desafiador, principalmente em razão das adversidades climáticas e geopolíticas, o que implicou em queda de margens e consequente aumento da demanda por capital. E, apesar de a necessidade de recursos ter crescido, as linhas tradicionais de crédito não foram ampliadas na mesma proporção. Neste ponto, o mercado de capitais tem se mostrado um aliado do agronegócio.
Dados do mais recente Boletim Mensal da B3 (BVMF:B3SA3), demonstram que entre janeiro e novembro do ano passado, o número de pessoas físicas que passaram a investir em Fiagros (Fundos de Investimento em Cadeias Agroindustriais) cresceu 417,3%, o que representa um salto de 30,7 mil para 158,8 mil. Ao todo, os individuais correspondem a mais de 92% do total de investidores, o que evidencia o seu interesse pelo produto. Ainda é pouco, mas sinaliza que a desintermediação como forma de captar recursos veio para ficar e esta será uma das grandes tendências para o segmento em 2023.
Estimativa da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) aponta para um cenário de estabilidade a um crescimento de até 2,5% do PIB do agronegócio em 2023. Pode parecer pouco, mas muito positiva em comparação com 2022, quando houve queda em torno de 4%. Os produtores têm sofrido com a alta dos insumos agrícolas, em especial dos fertilizantes e defensivos. O conflito bélico entre a Rússia e Ucrânia promoveu elevação nos preços internacionais e este cenário, aliado aos problemas logísticos, encareceram o produto no mercado nacional, principalmente no segundo trimestre de 2022.
Para se ter uma ideia, a CNA apurou que o preço médio de janeiro a setembro de 2022, da Ureia, do MAP (fosfato monoamônico) e do KCL (cloreto de potássio) foram 94%, 71% e 125% mais altos, respectivamente, em comparação ao mesmo período de 2021, em valores nominais. Além disso, o setor também foi impactado pela alta dos combustíveis, que afetou a colheita e o plantio. Nos nove primeiros meses. Segundo os dados da confederação, na média, o COE (Custo Operacional Efetivo) da produção de soja aumentou 34,6% na safra 2021/22 em relação à 2020/21, em termos nominais. Por outro lado, a Receita Bruta (RB) registrou diminuição de 8,3% em 2021/22 frente à temporada anterior, com pressão da produtividade.
Do lado da pecuária, pesam os aumentos dos custos da mão de obra, da ração e da energia. O preço de ração na pecuária de corte e leite, por exemplo, cresceu 11% na média de janeiro/setembro em relação a igual período de 2021, principalmente pela alta do sal mineral (50%). A CNA destaca que, considerando um período maior, desde o início da pandemia (mar/20), o setor vivencia uma alta acumulada até setembro de 96% no preço da ração.
Trata-se de um cenário preocupante, de menor margem para o produtor, em que os investimentos em produtividade e o aprimoramento da gestão financeira serão ainda mais relevantes. Mas o momento também demanda uma maior atenção do gestor na escolha dos ativos. Vale lembrar que o risco do investimento está relacionado ao crédito dos emissores das dívidas que são compradas pelo fundo e pode ser minimizado através de uma política austera de pulverização. Neste sentido, gestores com capacidade de identificar boas oportunidades de negócio com uma interessante relação risco-retorno e que atuam de maneira nichada, sairão na frente.
O momento que vivenciamos hoje traz grandes oportunidades para fundos de crédito estruturado, principalmente os Fiagros, cujo marco regulatório será consolidado este ano e deve permitir que o produto seja explorado em todo o seu potencial, refletindo as diferentes realidades do agronegócio.
(*) É sócio e gestor da MAV Capital