Luiz Gonzaga Bertelli (*)
O Brasil é realmente um país continente.
Essa gigantesca formação territorial, que abrange um litoral exuberante, áreas semiáridas e a imensidão da Floresta Amazônica, no entanto, favorece as desigualdades regionais, pelos diferentes níveis de cultura e desenvolvimento econômico. A industrialização que começou no Sudeste chegou tardiamente a outras regiões, como o Norte-Nordeste. Com isso, as dificuldades sociais aumentaram e grande parte da população foi obrigada a sair de suas localidades, deixar suas raízes para procurar trabalho nos grandes centros urbanos, afim de sobreviver.
Com esse novo contingente populacional, os problemas sociais das cidades agravaram-se e até hoje permanecem sem solução. Crianças abandonadas vivendo nas ruas; a fome e a miséria, provocadas pela desigualdade social, que destroem famílias e aumentam a marginalidade; a falta de assistência a idosos e pessoas com deficiência; a infraestrutura precária de saneamento básico em áreas de vulnerabilidade social; os índices de baixa qualidade de saúde e educação. Esses são apenas alguns exemplos de problemas que o poder público ainda não conseguiu resolver.
Mas o Brasil é um dos países onde a solidariedade está mais presente. Essa vocação natural costuma ficar evidente nas tragédias naturais, como as que acompanhamos com angústia recentemente em Mariana, cidade histórica de Minas Gerais, no maior desastre ambiental já visto com barragens de rejeitos de mineração, quando 62 milhões de metros cúbicos de lama que vazaram dos depósitos da empresa Samarco e inundaram distrito da cidade. As campanhas de alimentos, roupas, água e remédios arrecadaram milhares de toneladas, amenizando um pouco a dor de quem perdeu tudo, inclusive familiares na tragédia.
Aproveitando a vocação social, o CIEE incentiva a prática do voluntariado entre os estagiários e aprendizes para desenvolver o espírito de solidariedade e responsabilidade social. Um exemplo disso são as atividades que ocorreram em Goiânia/GO, em que aprendizes arrecadaram alimentos doados à Associação de Serviço à Criança Especial de Goiânia (Ascep). A proposta da campanha surgiu durante as aulas de capacitação teórica, quando foram trabalhados e discutidos os valores presentes na obra O Pequeno Príncipe, do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry.
Após os debates em sala, os jovens mobilizaram-se na campanha em prol da associação. A meta foi alcançada: foram entregues pacotes de bolachas e potes de manteiga para complementar a merenda das crianças. Para o grupo de aprendizes, doar um pouco do tempo para fazer o bem a quem necessita é uma experiência única. Em Araraquara, uma dessas ações ocorreu na Semana da Criança, quando aprendizes arrecadaram brinquedos para doar às instituições Lar dos Meninos e Sonho Infantil, do município de Descalvado, e Cantinho Fraterno e Nosso Lar, de São Carlos. No total foram arrecadados e distribuídos 250 brinquedos que alegraram grande número de crianças carentes.
Em Catanduva, mais um exemplo: aprendizes participaram de uma ação de solidariedade ao doar sangue, atendendo à campanha para aumentar os estoques do banco de sangue do município. São ações como essas que mostram que o trabalho voluntariado pode ser um importante canal de sabedoria para que os jovens possam valorizar suas conquistas e lutar cada vez mais por um mundo melhor.
(*) – É presidente do Conselho de Administração do CIEE, do Conselho Diretor do CIEE Nacional e da Academia Paulista de História (APH).