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Jovens talentos e indústria automotiva

em Opinião
segunda-feira, 07 de dezembro de 2015

Ingo Pelikan (*)

No início de sua história, entre 1960 e 1970, a indústria automotiva brasileira possuía forte atratividade para a contratação de jovens profissionais.

Era a preferida de todo recém-formado em engenharia mecânica, que por via de regra desejava ingressar numa montadora ou grande autopeças. Eram outros tempos, é claro, de enorme crescimento na cadeia automotiva. Com o passar dos anos, outros setores começaram a crescer no Brasil, apresentando novas formas de trabalho, e os engenheiros, que até então só miravam a indústria automotiva, perceberam que eram portfólio de muitas outras oportunidades.

Hoje a cadeia automotiva enfrenta concorrências pesadas na disputa por mão de obra especializada, como as empresas de tecnologia da informação, as companhias da área de negócios e as próprias redes bancárias. Enquanto montadoras e sistemistas apresentam um modelo clássico de gestão, com passagem de responsabilidades dentro de uma estrutura hierárquica, outros setores têm dinâmicas de trabalho que são consideradas mais atrativas pelos jovens. Na área de tecnologia da informação, por exemplo, empresas oferecem comodismos como trabalhar home office ou usufruir de espaços abertos dentro dos escritórios para a troca de ideias.

Fato é que hoje os jovens querem ter mais liberdade e facilidade de comunicação. Eles não buscam obrigatoriamente uma carreira vertical, mas experiências diferentes e novos desafios, ou seja, oportunidades de trabalho mais dinâmicas e criativas, que combinem desenvolvimento profissional com perspectiva de crescimento. Vale lembrar que há cerca de 10 anos o perfil do jovem já não era se manter no mesmo posto de trabalho por longos períodos, mas trocar de emprego para aprender o máximo possível.

O setor precisa voltar a ser atrativo para trazer ou, mesmo, reter esses talentos. Cientes de que novas demandas aparecem em cada geração, montadoras e sistemistas já avançam alguns passos nesse sentido. Além de oferecer planos de carreira e programas de trainees, na busca de talentos em universidades e escolas técnicas, a indústria começa a mudar a sua forma de gestão e suas estruturas organizacionais. Hoje, por exemplo, um engenheiro não precisa só trabalhar numa área de engenharia, mas pode contribuir em diversos setores como produção, tecnologia, vendas e comercial.

A indústria automotiva também já oferece outros chamarizes. O setor passa por uma revolução em termos de conhecimento e informática. Hoje a palavra que mais está em voga é conectividade; o sonho de consumo de parcela considerável dos brasileiros é apertar um botão que faça tudo sozinho. Nesse sentido, vários aplicativos surgem no setor, o que demonstra uma aproximação cada vez maior entre a indústria automotiva e o mundo da informática, um universo pelo qual os jovens têm alto grau de interesse. Neste caso, une-se o útil ao agradável: o perfil de inovação e criatividade com a necessidade do setor automotivo.

Outro atrativo para os jovens são os esforços da nossa indústria para a preservação do meio ambiente, refletidos no desenvolvimento de tecnologias que são capazes de atender as metas de melhoria da eficiência energética dos veículos. Existem cada vez mais legislações, que obrigam o setor – que por sua vez também se compromete – a desenvolver carros cada vez mais econômicos e menos poluentes. Neste contexto de transformações, tanto tecnológicas quanto legais, o equilíbrio dos experientes e a expertise dos jovens para a inovação são fundamentais para alavancar o processo de aprimoramento da qualidade na indústria.

Dessa forma, a indústria automotiva já caminha para ser tão atrativa como era lá no começo, o que deve ocorrer gradativamente nos próximos anos. Embora agora esteja enfrentando momento difícil, de adequação aos volumes de produção e venda, o setor tem espaço de crescimento, que se dará não só em volume, mas em diversidade de produtos em função das novas demandas por conectividade e preservação ambiental. Independentemente de quanto tempo vai durar essa fase de incerteza, devemos apostar que a indústria vai retomar e quem se preparar agora sairá na frente.

(*) – É presidente do IQA – Instituto da Qualidade Automotiva.