Na estrutura do governo americano existe a figura do Surgeon General, em português Cirurgião Geral, médico indicado pelo presidente do país e aprovado pelo senado para um mandato correspondente ao do presidente
Vivaldo José Breternitz (*)
Esse médico, dirige um grupo de mais de seis mil profissionais, organizados em uma estrutura militarizada, que tem por missão proteger, promover e fazer avançar a saúde da população do país.
O atual Cirurgião Geral Dr. Vivek Murthy, em seu terceiro mandato, está pedindo ao Congresso que obrigue a introdução de advertências nas mídias sociais, buscando informar os pais e adolescentes sobre os potenciais danos à saúde mental associados ao uso dessas plataformas.
Essas advertências, similares às já obrigatórias para tabaco e álcool, visam aumentar a conscientização e encorajar os usuários de mídias sociais a mudarem seu comportamento, quando este estiver oferecendo riscos à sua saúde.
“A crise de saúde mental entre os jovens é uma emergência – e as mídias sociais surgiram como um importante contribuinte para a geração dessa emergência”, disse Murthy em um artigo publicado pelo The New York Times.
O Cirurgião Geral citou estudos que levaram à conclusão que, em função da utilização das mídias sociais, quase metade dos adolescentes tem problemas relativos à sua imagem corporal. Além disso, aqueles que passam mais de três horas por dia nelas têm duas vezes mais chances de enfrentar sintomas de ansiedade e depressão.
Essa questão vem sendo amplamente debatida, mas alguns, especialmente profissionais ligados às grandes empresas de tecnologia, contestam esses estudos, evidentemente em função de seus interesses comerciais.
Essas contestações são rebatidas por Murthy, dizendo ao New York Times que “uma das lições mais importantes que aprendi estudando medicina (Harvard, Yale) foi que, em uma emergência, você não pode se dar ao luxo de esperar por informações perfeitas – você avalia as informações disponíveis, usa seu melhor julgamento e age rapidamente”.
Além das advertências, Murthy está pedindo legislação que proteja os jovens contra assédio online, abuso, exploração e exposição a violência extrema e conteúdo sexual gerados pelos algoritmos das mídias sociais.
Murthy também quer obrigar as empresas de mídia social a passarem por auditorias de segurança independentes e compartilharem os dados que possuem sobre os efeitos na saúde com cientistas independentes e o público.
Como as proposta de Murthy precisam ser aprovadas pelo Congresso e tendo em vista que este é fortemente influenciado pelas grandes empresas de tecnologia, é muito provável que demorem muito a serem aprovadas – se o forem.
De qualquer forma é mais uma voz que se junta às dos que se preocupam com o assunto.
(*) Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].