Paula Carvalho Albuquerque (*)
Liderança é um tema frequentemente associado a cargos de autoridade, posições elevadas ou títulos formais. No entanto, a verdadeira liderança não reside na posição que se tem em relação aos outros, mas na capacidade de influenciar, inspirar e conduzir a si mesmo e aqueles ao seu redor para um propósito maior.
Quando olhamos para líderes que realmente fazem a diferença, o que os distingue não é o título ou o cargo que ocupam, mas sim as atitudes, comportamentos e escolhas que fazem todos os dias. Liderar é um comportamento, uma maneira de viver e se posicionar no mundo. E esse comportamento nasce, antes de tudo, do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal.
Para ser um verdadeiro líder, é preciso olhar para dentro. Como liderar alguém, ou um grupo de pessoas, sem antes liderar a si mesmo? O autoconhecimento é o ponto de partida de qualquer jornada de liderança autêntica. Quem somos, quais são nossos valores, medos, inseguranças e forças?
Muitas vezes, nos deixamos levar pela expectativa de sermos perfeitos, inatingíveis, quando, na verdade, a liderança genuína vem da aceitação de que somos seres em constante aprendizado e evolução. É nesse espaço de vulnerabilidade que a força da liderança floresce.
No entanto, alcançar esse nível de clareza interna requer coragem. É necessário desconstruir padrões, deixar de lado o medo do julgamento e enfrentar os próprios limites. O autoconhecimento não é um destino, mas uma jornada contínua de exploração.
E é justamente nesse processo que o desenvolvimento pessoal desempenha um papel crucial. Ao nos permitirmos crescer, evoluir e mudar hábitos que já não nos servem, damos espaço para que comportamentos de liderança se manifestem de forma natural e autêntica.
Muitas pessoas acreditam que para ser líder, é preciso estar em uma posição de poder. Mas a liderança é uma escolha diária, independente do ambiente em que nos encontramos. Ela começa no cotidiano, nas pequenas ações, nas decisões que tomamos em relação a nós mesmos e aos outros.
Um comportamento de liderança pode ser visto em uma mãe que equilibra a vida familiar e profissional com resiliência, ou em um colega de trabalho que inspira sua equipe com palavras de encorajamento, mesmo sem um título formal.
Essa visão de que a liderança está disponível para todos pode, inicialmente, parecer desafiadora. Afinal, fomos condicionados a acreditar que liderar é algo reservado a poucos, àqueles que ocupam cadeiras em salas de reunião ou que têm um crachá mais sofisticado. Mas se continuarmos a enxergar a liderança como algo exclusivo, perderemos a oportunidade de perceber que já temos, dentro de nós, a capacidade de liderar nossa própria vida.
A mudança de perspectiva sobre liderança começa quando abandonamos a ideia de que ela é algo a ser “conquistado” e passamos a vê-la como um comportamento a ser cultivado. Isso exige, sim, consistência. Não basta identificar as áreas de crescimento e achar que tudo vai mudar da noite para o dia. É necessário um esforço contínuo, uma prática diária de rever nossos hábitos, ajustar nossas atitudes e desafiar crenças limitantes.
No processo de desenvolvimento pessoal, a consistência é a chave que desbloqueia o potencial latente. Pode parecer um trabalho árduo e solitário, mas a verdade é que a liderança, quando vivida como um comportamento, tem o poder de conectar as pessoas de forma mais profunda. Líderes que se conhecem e desenvolvem sua própria jornada pessoal inspiram naturalmente aqueles ao seu redor.
Eles não precisam exigir respeito ou reconhecimento, porque sua presença, suas ações e a maneira como enfrentam os desafios já falam por si. Eles são exemplos vivos de que a liderança não está no título, mas sim na forma como se vive. A consistência é também o que diferencia aqueles que fazem mudanças duradouras daqueles que desistem no meio do caminho.
Se você deseja se tornar um líder – e aqui, lembre-se, estamos falando de liderança em qualquer contexto, seja pessoal ou profissional – precisa estar disposto a adotar a mudança como um estilo de vida. Pequenos passos, tomados diariamente, se acumulam em grandes transformações. Não espere por um cargo ou um título para começar.
A liderança está à sua disposição agora, na forma como você escolhe agir, nas decisões que toma, na maneira como trata a si mesmo e aos outros.
A grande provocação, então, é: o que você está esperando para começar? Se liderança é comportamento, qual o comportamento que você está disposto a mudar hoje?
Talvez seja a forma como lida com o medo do fracasso, ou o modo como prioriza as necessidades dos outros em detrimento das suas. Talvez seja a maneira como evita conflitos ou adia decisões importantes por medo de errar.
A verdadeira liderança exige essa coragem de enfrentar o que não está funcionando, de revisitar velhos padrões e abrir espaço para algo novo. E é esse algo novo, essa pequena mudança diária, que pode transformar sua vida – e, por consequência, a vida daqueles que o cercam.
Ser líder não é um destino. Não é um lugar ao qual se chega com uma placa dourada ou uma sala com vista privilegiada. É um comportamento que nasce do autoconhecimento, se fortalece com o desenvolvimento pessoal e se manifesta na consistência de nossas ações diárias.
Quando entendemos isso, percebemos que o poder de liderar está em nossas mãos, aqui e agora. A verdadeira pergunta é: você está pronto para assumir esse papel?
(*) – Pós-graduada em Psicologia Organizacional, Gestão de Pessoas, Coaching, Carreira e Liderança pela PUC-RS, é Coordenadora RH Sênior do Ifood (https://www.ifood.com.br/).