Mirian Tibiriçá (*)
Desde a eclosão da Guerra da Ucrânia, em 2022, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) acusa a Rússia de planejar o corte de cabos submarinos que conectam a internet dos Estados Unidos e da Europa à maioria dos países. Em fevereiro passado, relatório do think tank britânico Police Exchange registrou 8 incidentes de interrupção do sistema na região euro-asiática desde 2021. O documento apontou a Rússia como principal suspeito graças ao “comportamento anormal” de 70 navios russos que foram flagrados próximos às infraestruturas críticas da região.
Em meio à escalada da tensão geopolítica ucraniana, cresce a preocupação dos governos ocidentais com possíveis fraudes às redes de comunicação e de energia. A Rússia possui espiões treinados na operação de drones marítimos e submarinos de águas profundas capazes de desligar, por exemplo, a frota de drones dos Estados Unidos por meio de uma falha cibernética. O chefe da Defesa britânica, almirante Tony Radakin, classificou como uma declaração de guerra uma eventual sabotagem dos cabos do Reino Unido. Recentemente a Noruega também acusou o governo do Kremlin de rastrear, com submersíveis, suas instalações de gás e petróleo.
A agressão às infraestruturas críticas – redes de comunicação, energia e bancária – seja por meio de hackers ou incursões militares, poderia gerar um caos mundial sem precedentes, afetar drasticamente o funcionamento das empresas em escala global e pôr em risco a segurança nacional dos países atingidos, sobretudo os Estados Unidos. Segundo o secretário-geral para inteligência e segurança militar da OTAN, David Cattler, as operações financeiras digitais são um pivô da economia norte-americana, ou seja, por seus cabos circulam U$ 10 trilhões por dia.
Em julho passado, o mundo viveu uma prévia deste cenário em proporções inferiores, mas o suficiente para se ter noção das consequências econômicas de uma real guerra cibernética entre as potências. Uma pane no sistema de segurança da CrowdStrike, que presta serviços à Microsoft, bloqueou o acesso de milhões de usuários ao software. Apesar de não ter sido fruto de sabotagem política, a falha resultou na suspensão de serviços bancários e de voos em vários países ao redor do mundo. Segundo analistas da consultoria Anderson Economic Group, a interrupção dos negócios gerou um prejuízo de mais de U$ 1 bilhão às empresas.
Com o clima internacional conturbado – desde janeiro deste ano a OTAN movimenta-se na Europa com a realização do maior exercício militar depois da Segunda Guerra, a criação de corredores humanitários e a construção de trincheiras nas fronteiras da Letônia para se defender do expansionismo da Rússia – a probabilidade de as potências lançarem mão de ataques cibernéticos aumentam, o que provocaria um colapso do comércio internacional.
Os apagões cibernéticos interrompem o fornecimento da cadeia de suprimentos e atrasam a exportação e importação dos produtos essenciais para a operação das empresas. No caso do Brasil, os setores industrial e tecnológico, que dependem da compra de componentes e matérias-primas da China, teriam que reduzir ou suspender a produção e arcar com prejuízos financeiros.
Apesar do cenário hipotético mas com risco real, as empresas brasileiras devem tomar, ao menos, três medidas para se precaver: diversificar os fornecedores para reduzir o freio repentino do fluxo de produtos; aumentar os estoques para garantir as operações em tempos de crise e ampliar a segurança digital investindo-se em firewalls avançados, sistemas de detecção de invasores e a contínua atualização dos operadores sobre o uso da tecnologia.
(*) Jornalista, graduanda em Relações Internacionais e especialista em Gestão de Projetos. E-mail: [email protected].