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em Heródoto Barbeiro
quinta-feira, 08 de agosto de 2024

Heródoto Barbeiro (*)

Os cientistas sociais e políticos concordam. A democracia no continente latino-americano não é uma constante. É uma exceção.

Desde o movimento de separação das monarquias ibéricas, as jovens nações foram governadas por caudilhos, entremeadas por períodos democráticos. Apoiados por latifundiários, conhecidos como terratenientes, são herdeiros das oligarquias que se formaram no continente, escoradas principalmente na posse da terra. Os golpes de estado são uma constante e ora têm uma orientação à direita, ora à esquerda. Uma vez no poder, massacram a oposição, impedem a liberdade de imprensa e expressão, e privilegiam os grupos que apoiam o déspota do momento.

É um jogo de interesses que se tinge de ideológico com o embate entre comunistas, de um lado, e liberais, de outro. Ou seja, economia apoiada no Estado em nome das classes mais pobres e, de outro lado, a liberação da economia para que cada um ganhe de acordo com suas habilidades e dedicação aos negócios e ao trabalho.

O mundo está de costas para o continente latino-americano. Há coisas mais importantes para atrair a atenção dos Estados Unidos e da Europa. A conjuntura mundial é grave e há ameaça de guerra em várias partes do mundo, o que ocupa a diplomacia e as Forças Armadas dos países chamados desenvolvidos. Com isso, os regimes sul-americanos se apoiam na força. Ou nos grupos armados que formam verdadeiros exércitos paralelos, ou nas Forças Armadas nacionais. Estas também estão presentes na América Latina desde o início do século 19, quando a maior parte dos libertadores era ou tinha formação militar.

Sem o apoio do Exército, ditador nenhum consegue ser manter no poder. Para isso, é preciso ganhá-los com benesses, privilégios, armamento moderno e reconhecimento da importância das altas patentes na sociedade. Há uma alternância entre o momento em que eles assumem diretamente o poder e quando apoiam um civil. Justificativas não faltam e acusações de “fascistas” e “comunistas” são constantes.

O golpe de estado está presente na evolução política dos países latino-americanos. E o Brasil não é uma exceção. As oligarquias dissidentes derrubam as tradicionais no movimento de 1930, que alguns historiadores chamam de revolução, outros de golpe de estado. O fato é que o mandante Getúlio Vargas está no poder há 7 anos e não pretende voltar para o Rio Grande do Sul. Quer ficar no Rio de Janeiro, a capital da República, centro do poder nacional. Com o apoio das Forças Armadas arma um golpe de estado.

O pretexto é a ameaça que em 1935 tentou um levante comandado pelos comunistas em quartéis e base aérea para impor no Brasil um regime “tipo soviético”. A direita, por seu turno, inspirada no modelo fascista de governo, ameaça – até com assalto ao palácio presidencial – impor uma ditadura semelhante à da Itália de Mussolini. Vargas é um político de  direita, mas não quer compartilhar o poder mesmo com os que se assemelham a ele ideologicamente. Em 1937, assusta a nação com ameaça de caos e guerra civil, dizendo ser o único capaz de assegurar a paz e a propriedade privada. Impõe a ditadura do Estado Novo. O mundo está à beira de uma guerra mundial na Europa e na Ásia. A América Latina e o Brasil não atraem o interesse das potências mundiais, empenhadas em se armar e se impor ao mundo.

O cenário é propício para ditaduras e a do Brasil sobrevive até 1945 com o fim da Segunda Guerra Mundial. E ela também foi derrubada por um golpe de estado. Liderado pelo Exército.

(*) – É âncora do Jornal Nova Brasil e colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Mídia Training e Budismo www.herodoto.com.br.