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Uma aposta perigosa: aviões com apenas um piloto

em Tecnologia
sexta-feira, 02 de agosto de 2024

A European Cockpit Association (ECA), entidade que congrega pilotos das companhias de aviação da Europa, emitiu um alerta a respeito das pressões para que a legislação seja alterada de forma a permitir a presença de apenas um piloto na cabine dos jatos comerciais, classificando a medida como “uma aposta perigosa”.

Vivaldo José Breternitz (*)

As companhias aéreas gostariam de dispor de software que suportasse essa nova configuração, que é conhecida nos meios aeronáuticos como extended Minimum Crew Operations (eMCO), ou operações de tripulação mínima estendida. Durante as fases de decolagem e pouso, estariam presentes na cabine dois pilotos – na fase de cruzeiro, logo após a decolagem, um dos pilotos poderia descansar, enquanto o colega permaneceria nos controle. Em voos longos, isso permitiria tornar a tripulação e os custos menores.

A Agência de Segurança Aérea da União Europeia (EASA) está avaliando as propostas. A Airbus apoia entusiasticamente a medida, que tem sido apresentada como um passo em direção a aviões totalmente autônomos.

Os pilotos criticam a ideia, e a ECA o descreve como um “esquema motivado pelo lucro” com um “risco significativo para a segurança”, tendo o comandante Otjan de Bruijn, seu presidente, dito que a segurança de todos os voos comerciais começa com dois pilotos bem treinados e descansados ​​nos controles, e que remover um piloto com o nível tecnológico atual é uma aposta muito perigosa.

Para alertar sobre os riscos, de Bruijn lembra as tragédias ocorridas com o Boeing 737 MAX: dois acidentes fatais, que mataram centenas de pessoas, foram causados por falhas de software.

Depois de ficar no solo durante algum tempo, o avião voltou a voar, mas novos incidentes têm acontecido com ele, fazendo com que até antigos executivos da Boeing recusem-se a voar em 737 MAX.

De Bruijn não é contra a automação, mas diz que ela não pode priorizar o lucro em relação às pessoas, e que são necessárias provas claras e transparentes de que novas tecnologias realmente melhoram a segurança de voo.

(*) Vivaldo José Breternitz, Doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo, é professor da FATEC SP, consultor e diretor do Fórum Brasileiro de Internet das Coisas – [email protected].