Outro dia, eu estava fazendo compras no supermercado e comecei a reparar nas embalagens dos produtos alimentícios. Todos os rótulos que observei já respeitavam as diretrizes de padronização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) implementadas em outubro de 2022. Na certa você também deve ter notado as mudanças recentes (que estão deixando de ser tão recentes assim). Felizmente, essa foi uma lei que veio para ficar. Sim, porque vivemos em um país onde há regras que pegam e regras que não pegam. Essa parece que vingou.
Graças ao trabalho impecável da Anvisa, os alimentos e bebidas vendidos no mercado brasileiro precisam agora informar de maneira clara e padronizada nos rótulos se ultrapassam os limites considerados adequados de açúcar adicionado, gordura saturada e sódio. Esse trio de componentes é tido pelos médicos como os vilões da boa saúde. Eles aumentam os riscos de obesidade, diabete, problemas cardiovasculares e outras doenças crônicas. Portanto, devem ser consumidos com parcimônia. E como o governo pode fazer para alertar a população dos riscos que esses itens trazem? Informando, conscientizando e alertando os consumidores!
A questão interessante desse belo case sobre transparência é que anteriormente as informações estavam nas embalagens dos produtos. O problema é que ficavam escondidas e vinham em tamanhos minúsculos. Ou seja, estavam lá, mas ninguém as via (ou conseguia achá-las). Além disso, não havia critérios para certos termos técnicos do setor, como diet, light, produto in natura, produto integral etc. Aí cabia a cada empresa definir o que cada uma achava melhor de ser comunicado aos clientes, o que nem sempre era condizente com a realidade.
Após a nova lei, todas as companhias precisam respeitar a padronização dos termos e a identidade visual dos alertas de risco para a saúde. A sinalização do excesso de açúcar, gordura e/ou sódio está gritante nos rótulos. Em alguns casos, esses dados aparecem com mais evidência do que a própria marca do fabricante ou o nome do produto (para desespero dos profissionais de marketing). Quem ganhou com essas mudanças, obviamente, foram os consumidores. Agora sabemos o que estamos levando para casa e ingerindo. Não é mais possível enganar, despistar ou omitir as informações relacionadas à saúde dos clientes.
Trouxe hoje essa história para mostrar (e debater, claro) o que é o conceito de transparência. Na minha visão, transparência não é só disponibilizar determinadas informações para o público. É também a forma como se faz a comunicação dessas informações. Se a maioria das pessoas não compreende rapidamente algo que está sendo transmitido ou não percebe um aspecto importante de determinada mensagem ou imagem, o problema, segundo a Teoria da Comunicação, não está nos receptores e sim no mensageiro. Foi você ou sua empresa que não souberam se expressar.
E muitas vezes, a clareza passa pela transparência. Será que as empresas do segmento alimentício e de bebida tinham motivação de, no passado, transmitir as informações que os órgãos governamentais agora exigem? Provavelmente não. Exatamente por isso a importância da regulamentação, da padronização e da transparência.
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Denise Debiasi é CEO da Bi2 Partners, reconhecida pela expertise e reputação de seus profissionais nas áreas de investigações globais e inteligência estratégica, governança e finanças corporativas, conformidade com leis nacionais e internacionais de combate à corrupção, antissuborno e antilavagem de dinheiro, arbitragem e suporte a litígios, entre outros serviços de primeira importância em mercados emergentes.