Heródoto Barbeiro (*)
Não se vive sem o petróleo. E as maiores reservas economicamente exploráveis estão em uma área que vive em guerra. As grandes empresas petrolíferas, conhecidas como “As Sete Irmãs”, monopolizam a exploração e o transporte.
O Ocidente depende do fluxo dessa matéria-prima, uma vez que construiu sua industrialização usando o petróleo como principal fonte energética. Isso transforma toda a região do Oriente Médio em um barril de pólvora, em que ataques, revoluções, assassinatos em massa, são constantes. O petróleo não convive com a paz. Fomenta a guerra e os motivos são os mais diversos. Atacar um navio petroleiro de uma empresa ocidental é como atacar uma parte do seu território. Provoca reação militar imediata. As potências gastam fábulas para manter tropas, navios e aviões militares.
Dividem a região em áreas de influência e a posse dos campos mais produtivos de petróleo colaborou para que elas fizessem guerra entre elas, como a primeira e a segunda guerras mundiais. Há movimento de independência de alguns países, geralmente precedidos de guerras. Há divergências de toda ordem, inclusive religiosas e culturais, que movimentam populações de crentes.
O Oriente Médio não está fora do alcance da Guerra Fria. Americanos e russos possuem arsenais nucleares poderosos e se ameaçam mutuamente. O mundo vive, de novo, a perigosíssima paz armada. As ideologias de direita e de esquerda apresentam soluções políticas diametralmente opostas. Os países produtores de petróleo tomam consciência da importância do produto e articulam a formação de um cartel. Em vez de se submeter aos preços ditados pelas bolsas ocidentais, concordaram em diminuir a produção e impor o preço que acham justo pela matéria-prima.
O movimento provoca um choque econômico global e o barril de petróleo multiplica de valor. Ou paga ou não leva, esse é o lema da OPEP, Organização dos Países Produtores de Petróleo, fundada em 1960. O fluxo de óleo vem do Oriente para o Ocidente ao mesmo tempo que o fluxo de dólares vai no sentido contrário. Os petrodólares. Inflação e déficit na balança comercial e de pagamentos. O impacto é maior no grupo de países chamados de emergentes, entre eles o Brasil.
O motorista brasileiro sofre ao pagar a conta da gasolina e do diesel no posto. Estes fecham por ordem do governo nos finais de semana. Passam a viver da lojinha de conveniência ou da cerveja e caipirinha servidas nas mesinhas misturadas com as bombas. Sem gasolina, o jeito é aproveitar a liberação do álcool. O governo, no auge da crise em 1973, se junta com a indústria automobilística e cientistas e lança o Proálcool. A matéria-prima é a cana-de-açúcar, plantada no Brasil desde a época colonial, mas que agora ganha uma nova dimensão, permitindo que os carros continuem nas ruas e nas estradas brasileiras.
Os canaviais, concentrados no Nordeste, migram para o “Sul maravilha”, com os trabalhadores nordestinos convertidos em bóias-frias rurais. Grandes usinas produzem bilhões de litros – são o embrião do agronegócio, os carros movidos a álcool têm isenção de impostos, e a indústria jura por todas as velas e carburadores que o motor vai funcionar como um reloginho suíço. Aqueles movidos a corda. Porém, pela manhã, o motor ressentido da ressaca etílica do dia anterior se recusa a funcionar.
Não se preocupem, dizem os engenheiros, adaptamos um tanquinho de gasolina e basta injetar a caríssima gasolina e tudo volta ao normal. Ele vem para ficar, e é também misturado à gasolina. O carro ganha até um distintivo na traseira, onde se lê FLEX. E o velho e bom álcool, presente também na caipirinha, passa a ser chamado sofisticadamente de etanol.
(*) É jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo.