Patricia Punder (*)
Temos acompanhado diversas matérias nas mídias sociais sobre dois temas que pouco tinham exposição, saúde mental e assédio moral e sexual. Então, por qual motivo, em pleno ano de 2023, estes temas viraram trends e são noticiados quase diariamente?
A resposta é simples: antes da pandemia existia muito medo dos colaboradores comentarem sobre estes assuntos. Havia o estigma nas empresas, principalmente no tocante a questão da saúde mental, e falar de assédio era quase um assunto “proibido”. A pandemia foi muito importante na vida de todos os colaboradores sob a ótica de que o que não era falado passou a não ser tolerado e as pessoas passaram a perder o medo de se expor e trazer à tona o que de fato tem acontecido faz anos no meio empresarial, seja empresas públicas ou privadas.
Esta semana fomos bombardeados de notícias sobre uma ex-colaboradora da Rede Globo que foi demitida no dia que retornou de uma recuperação de Burnout, ela acabou de ganhar a causa na justiça do trabalho, e a empresa tentou silenciar essa ex-colaboradora dizendo “eu pago, mas você não comenta”, pelo simples medo da verdade vir à tona.
Também fomos informados que novamente a Petrobrás teve um aumento em seus casos de assédio moral e sexual. Então, fica a pergunta: por que neste momento tais notícias foram divulgadas? A resposta é realmente simples, os seres humanos não aceitam mais as atitudes das empresas.
Simplesmente não podemos mais ignorar que tais situações fáticas existente, e devem ser tratadas com respeito e sem viés de julgamento. Escutei uma vez que as novas gerações não aguentam o tranco que vivíamos no passado, trabalhávamos 14 horas ou mais por dia e ninguém reclamava, trabalhar muito era sinônimo de produtividade. Foi comprovado cientificamente que tal afirmação não é verdadeira, temos a necessidade do descanso e do ócio criativo.
Considero muito importante este movimento, pois os mesmos quebram muitos paradigmas e vieses dentro das corporações. Em um mundo onde buscamos igualdade salarial de gêneros, não podemos mais aceitar que as organizações aceitem tais comportamentos ou acreditem que simplesmente demitir o causado do problema seria o suficiente para solucionar o problema. Seria o mesmo que colocar um band-aid em um crise estrutural que tem vários e vários anos.
Não estamos diante de uma geração de “mimimi”, mas de pessoas que chegaram aos seus limites, foram desrespeitadas e sofrem mentalmente com atos cometidos muitas vezes por colaboradores de altos cargos. O momento é de agir, ir à causa raiz e solucionar o problema existente.
Para tanto, isso requer coragem e o fim do corporativismo estrutural que está enraizado nas organizações. Empresas que vendem a imagem de programas de Compliance sérios não podem tolerar mais tais situações, atitudes provocativas e assertivas contra o status quo devem ser tomadas imediatamente.
A pandemia ensinou muitas coisas e uma delas foi não mais ficar calado diante destas situações. Estamos em um momento de encruzilhada, ou resolvemos estes problemas, ou mais e mais casos serão publicados diariamente nas mídias sociais, criando um exército de pessoas e consumidores que podem começar a boicotar os produtos e serviços destas empresas e de outras mais. Se as organizações tentarem minimizar os fatos ou tentar culpar as vítimas, teremos a tempestade perfeita para muitas crises reputacionais serias.
Concluindo, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”. Essa frase não é de Charles Darwin como muitos pensam, o verdadeiro autor dela é Leon C. Megginson, professor da Louisiana State University. Sendo assim, evolução será o único caminho para as organizações. Mas, fica o questionamento: as organizações estão eticamente maduras para evoluir?
(*) É advogada e CEO da Punder Advogados.