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Threads: a nova rede social em alta

em Manchete Principal
segunda-feira, 17 de julho de 2023

Maria Carolina Bianchi de Avis Neves (*)

O Threads alcançou a marca de 48 milhões de usuários inscritos, apenas no segundo dia de lançamento. Considerando que nas sete primeiras horas após o lançamento, já existiam 10 milhões de inscritos. Para se ter uma ideia da dimensão, a Netflix demorou quase 5 anos para atingir o seu primeiro milhão de usuários, enquanto o Twitter, rede social ‘inspiração’ para a Threads, precisou de 2 anos para ter 1 milhão de registros.

Já sabemos que, ainda em seu primeiro dia de vida, a rede social é um sucesso. Mas já temos grandes lições de marketing a considerar. A primeira delas é o marketing de oportunidade, há muitos meses, já tínhamos a especulação sobre a criação de uma rede social do Meta com as características do Twitter, mas só depois que Elon Musk limitou o consumo de conteúdo no Twitter, o assunto ganhou força. Obviamente, o objetivo de toda rede social é ter retenção, ou seja, fazer com que os usuários gastem mais tempo em cada sessão, enquanto o Twitter fez o inverso. Não há como saber se existe algum motivo maior por trás, mas o que importa é que o Threads chegou em um ótimo momento. Quando essa ação é feita propositalmente após algum acontecimento, chamamos de marketing de oportunidade: táticas que só são possíveis quando há a oportunidade, considerando o cenário. No caso do Threads, a expectativa é a de que os usuários do Twitter troquem a ação de twittar para threadar (rs).

Com sua característica de textos curtos (500 caracteres por post) e vídeos de até 5 minutos, todo o layout é pensado em atingir um objetivo: gerar comunidades que interajam e gastem tempo por lá. Para as marcas que querem marcar presença, ou os profissionais de mídias sociais que vão oferecer o Threads como canal de comunicação no plano de marketing, fica o desafio de estimular a interação e criar conteúdo que esteja de acordo com as características da rede. Instagram é uma coisa, Threads é outra. Se fossem iguais, não teria motivo para a criação de novas ferramentas, não é? Isso significa que não adianta criar um conteúdo no Instagram e replicá-lo no Threads, tática de reciclagem de conteúdo que MUITA gente já está fazendo por lá. Depois vão reclamar que não têm resultado, rs. A propósito, uma ação que está sendo muito utilizada é o compartilhamento de posts do Threads para o Instagram, e isso já era previsto pela Meta, uma vez que o compartilhamento para stories tem um layout próprio. Isso foi uma tendência por anos: posts no Instagram com Tweets. Será que agora veremos mais Threads e menos Tweets nos feeds e stories por aí?

A rede é uma ótima para a descoberta, primeira etapa de qualquer jornada de compra, porque os usuários além de verem os conteúdos das contas que seguem, também veem as interações dessas pessoas em postagens de terceiros. Semelhante ao LinkedIn, quando mostra conteúdos de conexões de segundo e terceiro grau. O resultado? Um possível aumento de seguidores que passam a descobrir a sua conta a partir da interação de uma outra pessoa. Percebeu a estratégia aqui? 1- Crie conteúdo relevante, para que tenham vontade de interagir.

2- Estimule a interação e responda todo mundo.

3- é uma rede para comunidade, não uma via de mão única. No Instagram, por exemplo, quando uma pessoa responde a um story, só o dono daquela conta vê a interação, enquanto no Threads todos podem colaborar.

No que diz respeito à estratégia de negócio, podemos dizer que Mark Zuckerberg foi um tanto quanto esperto. O Instagram tem mais de 2 bilhões de usuários, o Twitter tem mais de 350 milhões, portanto se menos de 20% dos usuários do Instagram forem para o Threads, já terá mais usuários do que a rede do passarinho azul. Pensando em ciclo de vida de produto, o Instagram já atingiu sua maturidade há tempos, e só existem duas formas de conseguir continuar monetizando: aumentando o número de usuários em plataformas que são extensão (como é o caso do Threads) e com retenção: quanto mais tempo navegando naquela rede, melhor para a empresa de tecnologia. Embora ainda não se tenha falado sobre anúncios no Threads, ainda é uma rede nova que – com certeza – passará por muitas atualizações, depois que os usuários se acostumarem e viciarem nela.

Por fim, mas não menos importante, na nova rede social os criadores de conteúdo não poderão usar aquela desculpa de que o post não deu certo (ou ‘flopou’), porque o Instagram está sabotando o alcance orgânico, que ele não entrega nenhum conteúdo e todo aquele discurso que já conhecemos. O feed do Threads é por ordem cronológica, ou seja, ganha visibilidade quem acabou de postar no momento em que aquele usuário abriu o app. Uma ótima estratégia para lançamento: estimular a criação de conteúdo em massa, a interação (já sabemos que vemos também posts de amigos dos nossos amigos) e o uso por sessões mais longas. É o básico bem feito, que funciona muito bem. Claro que funciona bem para a Meta, empresa que já tem uma boa base de usuários, o que seria um desafio para uma nova rede social.

Se será uma tendência, é impossível prever. Existiram lançamentos que deram super certo, como os stories e o reels, por exemplo. Mas algumas features não tiveram muito destaque como notas e os guias. Tudo sempre depende do comportamento dos usuários. O marketing, no fim, é sempre sobre pessoas.

(*) É professora dos cursos de Marketing do Centro Universitário Internacional Uninter. Mestre em Gestão da Informação, profissional de Marketing Digital associada ao Meta e certificada pelo Google.