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Mulheres modernizam e impulsionam o agro

em Agronews
sexta-feira, 02 de junho de 2023

Da Redação

Receita de uma CEO vencedora: disciplina e humildade para crescer.

Nascida em meio à vida rural, sempre acompanhando o pai, Adriana Desidério aprendeu bastante com pessoas mais velhas no trato da produção rural. Mas, inquieta, logo percebeu que poderia modernizar, e muito, o negócio de família. E a esse dia a dia acrescentou o curso de agronomia e uma pós-graduação. Mas a menina, com menos de 30 anos, ainda precisava superar a barreira da “juventude”. Como explica Carolina Utimura, da Eureca, consultoria jovem-cêntrica que busca construir pontes entre gerações, “a diferença crucial está nas oportunidades que as pessoas têm para descobrir e desenvolver esses talentos. A família, a escola e a comunidade desempenham um papel fundamental em incentivar os jovens a se conhecerem melhor e motivá-los a aplicar esforço e estudo para expandir seu potencial”. O sr. Desidério resolveu apostar em Adriana e … BINGO! Hoje a agropecuária cresceu, nas mãos da CEO, se desenvolvendo internamente e exportando, cada vez mais, soja e milho para o mundo.

O jovem brasileiro tem perfil de alto potencial, muito mais pragmático hoje em dia devido a sua maior influência na composição da renda familiar, começa a priorizar mais a estabilidade, mas mesmo assim não desprioriza questões éticas e causas coletivas ao social e ambiental, sendo fortemente crítico dessa coerência nas instituições”

“Eu sempre acompanhei meu pai, vendo como ele tocava o negócio. Ouvi muito os empregados mais velhos também, mas durante quatro anos minha função era só distribuir marmitas e buscar peças, diversas, na cidade. Não, não era isso que eu queria e então resolvi dar um xeque-mate”, conta Adriana Desidério, hoje engenheira agrônoma e pós-graduada em gestão empresarial. A história é longa, mas pode ser assim resumida: com o tempo o patriarca da família escolheu o filho homem para ficar à frente do negócio e, como isso não deu muito certo, então decidiu repassar a oportunidade para Adriana que, unida à irmã Amanda (zootecnista de formação, mas atuando como diretora financeira da empresa), empreendeu novo ritmo ao negócio. “Primeiro foi preciso entender que éramos empresários – a Agropecuária Desidério, no atual modelo, foi criada em 2020 e só teve internet para todo o time em dezembro de 22 – e não fazendeiros, e como tal os empregados precisavam ter conta bancária e não ficar recebendo em dinheiro vivo pelo trabalho, por exemplo”, explica a gestora.

Carol Utimura

Juventude
Para Carol Utimura (como é chamada), 27 anos, graduada em Relações Públicas, CEO da Eureca, ex-presidente da Confederação Brasileira de Empresas Juniores, conselheira fundadora do Pacto da Juventude pelos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU) e eleita Jovem de Valor, em 2022, “o jovem brasileiro tem perfil de alto potencial, muito mais pragmático hoje em dia devido a sua maior influência na composição da renda familiar (hoje 70% dos estagiários ajudam no sustento da família, segundo o CIEE), começa a priorizar mais a estabilidade, mas mesmo assim não desprioriza questões éticas e causas coletivas ao social e ambiental, sendo fortemente crítico dessa coerência nas instituições”. Para ela, a grande disparidade em relação à grandeza de seus sonhos e sua autoconfiança em perseguí-los “está no acesso às oportunidades, onde infelizmente ainda desperdiçamos grande conversão desse potencial”…
Oportunidade que Amanda e Adriana Desidério tiveram e agarraram. Hoje as irmãs e o pai formam o Conselho de Administração da empresa. Apesar de atuar em um segmento historicamente machista, a CEO (nascida em Bom Jesus de Goiás/GO, há 31 anos) diz que o pai sempre lhe deu liberdade para se impor no dia a dia e que nunca teve grandes dificuldades em lidar com homens, mesmo os empregados mais velhos que ela. “Preconceito existe em toda a sociedade, em todos os segmentos, mas para mim nunca foi exagerado ou me impediu de fazer algo”, conta ela, afirmando que um dos “segredos” que leva para a vida é a humildade. “É preciso ouvir e aprender com os mais velhos, que já estão na lida…” E vice-versa, como fez o sr. Desidério, dando ouvidos às suas “meninas”. Tanto que aceitou fazer coaching e se atualizar. Hoje o negócio tem mais fluidez na operação e em decisões, com instrumentos modernos de gestão, e exporta 100% da soja que planta, enquanto o milho tem destinação de 50% para o mercado nacional e a outra parte para o internacional. 

Emocional
E onde entra o fator inteligência emocional nessa história, permeada pela transição geracional em um mundo cada vez mais competitivo?

“Quando tratamos de competências emocionais enfrentamos fortes barreiras na sua implementação”, comenta Carol Utimura, opinando que cabe às instituições de ensino “entenderem como trazer o tema de forma transversal, além de apoiar seus educadores no ferramental e reconhecimentos necessários. É importante salientar que, no contexto atual de Brasil, os empregadores também podem ser ativos nesse processo, apoiando através da educação corporativa para os jovens talentos e reduzindo essa lacuna de competências”.

Relativamente ao agronegócio, a CEO da Eureca diz que os jovens “também têm inseguranças, e existe uma ideia equivocada de que o setor agrícola brasileiro é menos atrativo do que as oportunidades de startups de tecnologia e afins. Porém, em termos de impacto, o setor agropecuário brasileiro pode se destacar internacionalmente em produtividade, sustentabilidade e transformação digital”. Em sua visão, a geração que ora chega ao mercado de trabalho tem potencial para transformar a agricultura em algo próspero (que já é) e sustentável (a caminho). E coloca um desafio: como podemos envolvê-los nessa conversa? As lideranças atuais estão abertas a ouvir e trabalhar em prol dessas mudanças?

Adriana afirma que a família desempenhou papel fundamental na construção
de um novo cenário.

Sobre continuar o negócio de família, Carol explica que “a sucessão é uma disciplina de longo prazo em um mundo de curto prazo”. E pontua, argumentado que os esforços de hoje talvez só sejam reconhecidos daqui uma década. “Diversos modelos de planejamento de sucessão existem, mas o que vejo conversando com as novas gerações é aquele que combina um processo objetivo centrado”.

A questão ESG (práticas ambientais, sociais e de governança, na sigla em inglês) deve ser levada a sério, recomenda a consultora: “Se queremos que os jovens se engajem no setor, precisamos olhar o ESG com muita seriedade e velocidade. Aqueles que poderão escolher, não vão ter como prioridade as organizações que não se comprometem com uma produção sustentável e cuidados com a comunidade”.

Depois de acentuar que a Eureca, comprometida a conectar jovens em começo de carreira com boas empresas, tem como missão superar os desafios de educação, muito mais que os de recrutamento, nota que “a desigualdade de oportunidades entre a juventude ainda é uma forte barreira de entrada no mercado, assim como o mercado pode mudar suas exigências em prol da diversidade”.
 
Já Adriana Desidério, que gerencia 60 empregados na entressafra e 90 na colheita, distribuídos em quatro unidades produtoras (sendo três no Mato Grosso e uma em Goiás), deixa como conselho aos mais jovens a disciplina e a determinação, na busca por seus objetivos, mas sem abdicar da humildade em aprender com as pessoas que as cercam.