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4 passos para realizar o diagnóstico de valores ESG no Terceiro Setor

em Manchete Principal
sexta-feira, 28 de abril de 2023

por Tarsila Lopes*

Toda entidade sem fins lucrativos, seja ela uma Associação, Instituto ou Fundação, nasce com um propósito, ou seja, uma missão que pode e deve integrar funções e ambições que não foram preenchidas e alcançadas pelo governo e pelas empresas, respectivamente, pertencentes ao primeiro e segundo setores da economia.

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Uma ONG (Organização não Governamental) estrategicamente bem desenhada deve ter: missão clara, objetivos, metas e indicadores compartilhados com todas suas partes interessadas, além de trabalhar com parceiros que possam trazer escala tanto de conhecimento quanto de alcance.

A agenda de valores ESG (Environmental, Social and Governance), ou Ambiental, Social e Governança (ASG), em português, atualmente em alta nas empresas, muito pode fazer também pelas entidades de terceiro setor, trazendo uma melhor profissionalização, principalmente em relação à Governança e à Sustentabilidade.

Apesar de ter se popularizado nos últimos anos, o ESG surgiu há quase 20 anos com a publicação do relatório Who Cares Wins ou “ganha quem se importa”, defendendo que, por meio do ESG, é possível avaliar a conduta das organizações em relação a esses três pilares.

Aterrizando os quatro passos de um diagnóstico ESG, hoje muito aplicado em empresas como um norte para o início ou ajuste de suas jornadas no tema, vemos que esse mesmo processo de maturidade em relação às ações e aos compromissos poderia ser replicado e trazer benefícios para entidades sem fins lucrativos, como vemos a seguir.

  1. Materialidade: o processo que identifica temas materiais, ou seja, aqueles nos quais uma organização gera impactos e pode ser impactada, influencia diretamente na definição de propósito, objetivos e o que vai ser priorizado para o atingimento dos resultados desejados. Ou seja, se for conduzido de maneira sólida e consistente, certamente trará uma missão e um plano de ações mais assertivos. A priorização de temas também facilita a sinergia com as empresas e os parceiros que estejam traçando uma mesma direção quanto aos seus impactos. Pensando no exemplo de uma Fundação focada em programas de educação, ela pode ter como temas materiais mais relevantes: tecnologia e inovação, impacto social, equidade racial nas escolas, ética e integridade e educação ambiental. Essa eleição de temas traz clareza sobre o foco de suas atividades para os vários públicos com os quais se relaciona, sejam os estudantes que participam dos projetos ou investidores e empresas interessadas em parcerias.
  2. Gestão de metas e indicadores: a materialidade é o fundamento que possibilita a construção das metas e dos indicadores ESG, que inclusive compõem os relatórios. Hoje, num momento de alta demanda por transparência constante, existem algumas plataformas que organizam e facilitam essa gestão, trazendo ainda mais visibilidade e entendimento de maneira estruturada para gestores, parceiros e investidores, o que resulta em segurança para doadores e investidores, atraindo mais recursos para sua manutenção e continuidade.
  3. Análise de riscos: a avaliação, a classificação e a priorização de vulnerabilidades sociais e ambientais serão cada vez mais cobradas das empresas, seja por questões regulatórias ou de investimentos, assim como na avaliação integrada com resultados financeiros. Isso refletirá na cadeia de valor. As organizações de terceiro setor parceiras que façam parte dos programas de impacto social, por exemplo, também poderão ser analisadas e avaliadas quanto a possíveis impactos negativos que possam causar para a reputação da empresa.
  4. Governança: boas práticas de estruturação e gestão podem trazer o equilíbrio que a maioria das organizações de terceiro setor buscam. Isso é possível alcançar conciliando os interesses públicos, ou seja, o propósito da sua existência, com o interesse privado, diretamente ligado à reputação de seus mantenedores. Um processo de governança bem desenhado consegue converter os princípios e os valores em responsabilidades, processos, controles e políticas, o que acaba gerando um maior valor social, diminuindo as preocupações e inseguranças dos stakeholders e, consequentemente, aumenta o acesso das ONGs a recursos que mantem sua sustentabilidade.
    O ESG trouxe novas possibilidades de se organizar, relacionar, comprometer, responsabilizar e principalmente de se expor. Por isso é tão importante que o terceiro setor, peça chave do “S”, tenha acesso e reflita como caminhar junto a empresas, trazendo também uma mudança de percepção sobre a importância do papel nessa complexa jornada.
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*Tarsila Lopes é consultora master de ESG da Protiviti, empresa especializada em soluções para gestão de riscos, compliance, ESG, auditoria interna, investigação, proteção e privacidade de dados.